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Para além da Trafaria
Minha mãe, haverá mundo
para além da Trafaria?
Não sei, meu filho. Não sei.
Tudo aquilo que sabia
já no meu sangue te dei.
Que serras são estas, mãe,
que não nos deixam ver nada?
São rugas que a Terra tem.
Não maces a tua mãe.
Deixa-me estar descansada.
Ó mãe, que rio é aquele?
Onde nasce e onde morre?
Ó filho, é Deus que o impele.
Entretém-te a olhar para ele.
É um rio. Tem água. Corre.
Quando eu for crescido, mãe,
quero saber e entender.
Ó filho, o supremo bem
é cada qual, com o que tem,
resignar-se e agradecer.
Deus faz tudo pelo melhor.
Não se engana nem se esquece.
De todo o mal, o maior,
seria sempre pior
se Deus assim o quisesse.
Ninguém foge ao seu destino.
Está tudo determinado.
Não penses com desatino.
Dorme, dorme, meu menino,
Um soninho descansado.
António Gedeão, in Poemas da Gaveta: Poesias Completas- 1956-67