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... é olhar Lisboa.
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Lisboa é a minha cidade portuguesa de entre todas as cidades. Eu gosto de Lisboa. Para além da estética, da arquitectura ou dos projectos urbanísticos mais antigos ou mais contemporâneos, Lisboa concentra e transmite-nos um imaginário urbano, uma ideia de cidade, do passado impresso no presente, de uma dinâmica que muda todos os dias, da concentração de gente em diferentes horários, da diversidade humana, das camadas de culturas e pessoas que se foram sobrepondo por entre os tempos. Uma necessidade de conhecer outras cidades porque elas já estão nela marcadas pelas pesssoas que a habitam e que vêm de todo o mundo. Lisboa é cosmopolita no sentido em que nos mostra a diferença e como ela é e pode ser intrinsecamente enriquecedora.
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Gosto de Lisboa não por morar em Lisboa. Gosto de Lisboa porque me habituei a ver a cidade de fora dela. Sempre vi Lisboa do lado oposto do rio. As abóbadas da Sé, o Padrão dos Descobrimentos, as Amoreiras e a Baixa, a primeira Ponte, Alcântara e as docas, quando eram mesmo docas, os cacilheiros e o rio. Os milhões de luzes, projectados de noite, aquecem-nos os olhos, a nós que a olhamos de uma janela, separados por um rio e uma história.
retirado de www.scaperscity.com
Gosto de Lisboa porque nasci lá e conheço as ruas e já as li inúmeras vezes com os meus pés. E também porque há muito de reconfortante no facto de podermos voltar ao local onde nascemos sempre que nos apeteça.
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Tinha-me esquecido de quão bonitos são os jardins e miradouros de Lisboa.
O meu preferido é, sem dúvida, o miradouro da Graça ou da Nossa Senhora do Monte, no lado oposto ao Castelo. Os miradouros são fascinantes porque nos permitem ser voyeuristas sem nos sentirmos culpados; observamos de longe e descobrimos pormenores. A vista da Graça sobre a sua cidade é avassaladora com as colinas a enquadrarem a ponte e o sol a morrer lá atrás.
Lisboa é uma cidade repleta de idiossincracias e contradições e, por isso, fascina-me. Dos bairros pombalinos aos bairros nascidos da racionalidade do urbanismo de meados do século passado; das avenidas novas às avenidas velhinhas como a da Liberdade, a cidade é coerente na sua diferença. Na dissemelhança entre os seus moradores.
Fascina-me em Lisboa a possibilidade de imaginá-la há cem anos atrás. Encontro-lhe os prédios e as ruas que o Eça descrevia; consigo seguir os passos do Saramago no "Ano da morte de Ricardo Reis". Consigo rever a ribeira das Naus com o seu Arsenal da Marinha e os apitos das fábricas e dos barcos. Consigo até imaginar o Largo do Carmo repleto de militares e populares e espantar-me com o seu reduzido tamanho, tão enganador nas fotografias da revolução.
Lisboa é a minha cidade. Para gostarmos de alguma coisa, temos de a conhecer e eu não conheço tão bem nenhuma outra cidade do mundo como conheço Lisboa.
Não a vejo como a "cidade branca", tal como o filme parecia argumentar. Vejo Lisboa com luz, uma luminosidade clara, não branca, mas amarela e que se vai esbatendo num espectro de cores semelhantes à medida que nela entramos.
retirado de www.trekearth.com
As cidades, no fundo, para além do espaço físico, construído ou não, dizem-nos alguma coisa, sobretudo, pelas memórias que delas guardamos. Metade da minha vida teve Lisboa como cenário e na outra parte ela esteve sempre presente.
Para manter e sublinhar a subjectividade deste texto, concluo afirmando que outra cidade fascinante é o Porto. E mais uma vez, a apreciação é particular: eu gosto do Porto precisamente porque o vejo muito diferente de Lisboa, a luz, a cor, as formas... Sentar-me na ribeira e olhar o Porto é uma memória visual que não esqueço e sempre que posso renovo.