A mulher de 30 anos não era nascida no 25 de Abril de 74; não ouviu radionovelas e não vibrou com o Festival da Canção. A mulher de 30 anos tropeçou em dois séculos e está aqui! Também opina, ainda não é anciã e agora é mãe

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Boa noite,Como a entendo.Uma coisa é fazer o "que ...
É tão giro encontrarmos desenhos antigos, retratam...
Compreendo perfeitamente! É tão difícil deixá-los ...
Terça-feira, 18 de Dezembro de 2007

Fumar / Não Fumar

Não se trata de uma abordagem ao tabagismo como causa e efeito de uma reviravolta existencial como no(s) filme(s) homónimo(s), mas antes de um post relacionado com os direitos e deveres individuais na esfera colectiva.
 
Ser fumador não é sinónimo de se ser um desviante social. Trata-se de um acto individual profundamente enraizado na cultura portuguesa e, por entre contextos e conjunturas, transversal a todos os cidadãos, independentemente da classe social, da região onde habitam ou da profissão.
 
Entre fumar e o hábito de beber café a toda a hora que a maioria dos portugueses têm pouca diferença existe. Aliás, uma e outra coisa são quase indissociáveis (pelo menos para os fumadores).
 
Para além da adicção que causa, antropologicamente falando fumar é um hábito cultural. Um exercício social num contexto cultural que, no ocidente, o foi promovendo e divulgando desde que, no século XVI, trouxeram as plantinhas das Américas.
 

Olha a Lauren e o Humphrey tão sensuais: mulher fatal, fumava; homem machão também.

 
Fumar é um negócio milionário para as indústrias tabaqueiras. E para o Estado que arrecada milhões de euros com os impostos que do tabaco derivam.
 
Fumar faz parte integrante de um imaginário português boémio, associado às tertúlias, ao cultivo da amizade, da intelectualidade e da espiritualidade existencial. Fumar nos cafés entre grupos de amigos é-nos descrito como um prazer quase espiritual (leiam lá as descrições do Júlio Dinis ou do Eça).
 
E o Fernando? Haviam de lhe dizer que não podia fumar na “Brasileira” ou nos “Irmãos Unidos”! Por esta ordem de ideias tirem o cigarro da mão da estátua.
 
Assim, e desde sempre existiram fumadores e não fumadores. Hoje a discussão já vai longe de mais e já se nebulizou entre os argumentos de uns e de outros em relação ao acto de fumar em locais públicos. Contudo, em vivência democrática nunca é demais evocar a máxima “a minha liberdade começa onde a tua acaba”. Dois exemplos extremos que me sucederam há pouco tempo:
 
  1. Lá vou eu na rua, com um saco de compras de Natal, acendo um cigarro (em espaço público comum, vulgo meio da rua literalmente) e nisto, ao meu lado, em andamento também, um sujeito (decerto esquizofrénico paranóico grunho) que começa a tossir para cima de mim. Ok, falamos de uma avenida, larga e espaçosa e o gajo estava mesmo em cima de mim. Olhei de soslaio para o dito. Foi a oportunidade pela qual a alma desvairada esperava. Começou a berrar (não falar, não gritar, mas a berrar): “Tenho de levar com o fumo dos outros, não há respeito. Sua porca (sim, chamou-me isto!!!), estúpidos, eu não fumoooo!”. Continuei a andar como se nada fosse e com o meu saco (que até era pesado) em posição de ataque defensivo caso a estupidez alheia passasse à acção. Mas não, o desalmado ficou parado a berrar no meio da rua. Sinistro no mínimo, não?
 
  1. Estou sentada no café onde diariamente vou pela manhã (cinzeiros em todas as mesas, ausência de letreiro anti-fumo). Está vazio à excepção da minha pessoa e um casal. Sento-me, afastada do dito, pois vou fumar enquanto bebo um café. Minutos depois entra uma família com duas criancinhas (eu estou a fumar, ainda) e onde se sentam? Ao lado da minha mesa. Não escolheram os lugares mais afastados, não, foi mesmo ali ao lado. Instantes a seguir começa o pai a tossir, segue-se a mãe (tuberculosos? não creio). Não apago o cigarro. O patriarca da famelga levanta-se e vai ao balcão reclamar que não há direito, que as criancinhas vão comer e estão a levar com o fumo dos outros, que só quando for mesmo proibido é que “esta gente” deixa de fumar nos cafés, e rebéu. A dona do estaminé a alertá-lo que ali ainda se pode fumar, que há mesas mais afastadas, que o café é espaçoso e o inalador de fumos novo e blábláblá. Mas o homem não, ninguém o demovia, que se sentava onde quisesse, que os outros deviam era respeitar, e o ar poluído e os pulmões das crianças...
 
Isto não é normal e nem sequer aceitável. Eu não vou para o degredo só porque sou fumadora, ai não vou não.
 
E a Mae West? Há oitenta anos praticar princípios feministas de emancipação passava pelo cigarro.
 
Apesar da nossa cultura ocidental nos ter desde sempre inundado com campanhas explícitas e implícitas pro-fumo, hoje, e em meia dúzia de dias, espera-se mudar radicalmente comportamentos de décadas. As leis mudam, mas as pessoas demoram muito mais tempo, ok? Bora lá todos a exercitar a tolerância.
 
Eu não acendo um cigarro num café que tenha um cartaz “Agradecemos que não fume” e nem acendo um cigarro num café apinhado. Mas nunca, nunca mesmo acendo um cigarro quando estão crianças sentadas em mesas próximas; não deito beatas para a areia quando vou para a praia (trago-as para o caixote num lindo cinzeiro de funil que alguns concessionários nos davam). A bem dizer hoje em dia não fumo em locais públicos fechados. Não fico incomodada, tem toda a lógica. Lá por ainda há 40 anos andar o pessoal a fumar nos autocarros (lembram-se ainda dos cinzeiros de metal nas costas dos bancos), nos hospitais, nos bancos, nas repartições públicas, não quer dizer que fosse uma atitude muito saudável, o contexto é que era diferente.
 
O meu avô, e alguns milhares de imberbes, começou a fumar aos 12 anos, na altura em que começou a trabalhar. Era quase um ritual de passagem, a subida ao estádio mais próximo dos adultos. As senhoras da elite económica também o faziam, era chique, reproduzindo a moda europeia da época. As da classe baixa não, se fumassem eram “de má vida”. Os intelectuais sempre cultivaram o acto de fumar como um emblema distintivo do seu estilo de vida.
 
Homem de barba rija fumava. Que morresse depois de cancro pulmonar (também pode ser atropelado antes, é verdade) é secundário. Macho que se prezasse tinha, até há 20 anos, um cigarro no beiço.
 
E depois os filmes, a publicidade e o anúncio do Artur Agostinho a esfumar-se todo na televisão, mais os programas culturais com o pessoal das letras e das artes a fumarem que nem doidos enquanto debatiam a revolução, as formas cooperativistas, a alfabetização de adultos e outras questões prementes.
 
Até se percebe porque está lá o cigarro. Condiz. È a tal coisa do estilo, do modo de vida e do imaginário intelectual urbano. Era inteligente e brilhante, mas fumava. A Natália estava no direito dela, o fumo do seu cigarro no topo da boquilha nunca matou ninguém. Gostava de a ouvir versar sobre esta lei que vai sair.
 
Passaram trinta anos, mas trinta anos não é nada nestas coisas. Parece que se passa do oito para o oitenta e se criou um fosso enorme entre quem fuma e quem não fuma. Parece-me que se atribui hoje mais poder aos não fumadores, o que lhes aumenta a prepotência de acharem que têm uma razão universal do seu lado (com as costas quentes da lei que vai agora sair) e então sentem-se no direito de atentar deliberadamente contra a liberdade alheia. Alguns consideram-se detentores de uma moral superior que, consequentemente, traz ao de cima o pior que nós humanos temos: o sentimento de mesquinhez. A segregação é uma coisa perigosa.
 
Eu fumo e tal coisa só a mim me diz respeito. Que faça mal à minha saúde, que o Estado seja sobrecarregado se eu ficar doente, azar, eu desconto muito dinheiro todos os meses para a segurança social. Sou dona da minha vida e tenho a liberdade de ser fumadora. Não tenho a liberdade de impingir o meu fumo aos outros, pois não, mas também não o faço. Eu até concordo com esta lei que vai sair a 1 de Janeiro. Eu fumo em locais para fumadores e fumo em locais omissos. Se estão lá crianças, nem entro, vou a outro café ou restaurante, mais amplos. Se não está lá muita gente, se há espaço e outros fumadores, abanco-me e fumo também. Um pouco de bom senso de ambas as partes nunca fez mal a ninguém.
 
Pessoalmente causam-me o mesmo asco os radicais antitabágicos como os fundamentalistas tabágicos. Bom senso, criaturas, só isso.
 
Porque se eu já estou num café a fumar porque raio é que entram e trazem as criancinhas para cima de mim? Porque não fazem o mesmo que eu faço na situação inversa e que é andarem mais meia dúzia de metros e entrar noutro café? É a mesmíssima coisa.
 
 
 
 
 
publicado por amulherdetrintaanos às 22:23
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