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Quase um mês afastada das minhas actividades blogueiras regresso feliz e contente, imbuída de espiríto natalício, com a pele seca de tanto corropio pré ritualesco por entre lojas de ares condicionados tropicais e espaço público frio como o verão siberiano, munida de novas energias e com toda a panóplia de tarefas laborais escravizantes terminadas que me afastaram do meu tempo lento blogueiro, entre outras actividades divertidas que me revitalizam e alegram porque confesso... eu não vivo para trabalhar e eu gosto é de ócio (e mantas polares e moscatel...) e de flanar por aí a fazer aquilo que me der na tola...
E para recomeçar compartilho convosco esta pérola de sabedoria que se chama senso comum, essa atitude sábia, essa postura existencialista, esse questionar pré socrático latente nos anciãos que por aí andam livremente na sua vidinha de reformados mal pagos; daqueles que a gente ainda consegue ouvir e ver, daqueles que andam de transportes públicos e a pé, seja porque não estão fechados em casa ou amontoados em lares com nomes esquisitos e contraditórios (tipo, "sempre jovens"ou "o nosso cantinho"), seja porque a idade já não lhes permite circular automobilisticamente...
E perguntam vocês: velhinhos em transporte público? Sim, sim. E eu ia lá também, num autocarro atulhadinho que me fez arrepender de entrar logo ao trespassar a porta, ensaduichada entre um dread e uma pseudo tia e a levar com o cotovelo de um senhor encasacado que fazia lembrar aquele bonequinho do south park.
Então, recapitulando, ia eu e mais metade da população da minha terra metidos num autocarro lagarta que parou à porta de uma igreja da pós modernidade... o centro comercial da terra. Eu tinha o carro no estacionamento do dito, mas quando me vinha embora, a longa fila engarrafada para de lá sair, fez-me dar meia volta e apanhar um bus. Como moro a três paragens do mega santuário, tinha um módulo e pouca gasolina tive essa brilhante ideia de usar o estacionamento público, como privado e lá me enfiei no autocarro a pensar que lá para as nove da noite podia ir calmamente resgatar o meu veículo.
E então, no meio da confusão, entre o dread e a tia, iam sentados dois velhinhos. Ele com sacos do jumbo, ela com um guarda chuva; ele de boina, ela de lenço. O diálogo, se escrito por um argumentista polaco, não poderia ser mais surrealista, ele afirmava uma coisa, ela constatava outra ao lado, mas eis que, de repente, aquelas duas almas são unidas pela ideia determinista de destino, passam para o livre arbítrio e ainda afagam a ideia de liberdade tão cara a Leibniz . Eu estava que não podia, ainda pensei ligar dali para a tvi e propor-lhes aquela dupla maravilha em substituição do pulido valente, mas não queria interromper a conversa. Aqui fica a conclusão que eu registei mal sai no meu caderninho de bolso, porque valia a pena e se os cadernos de bolso não servem para isto, não sei para que mais hão-de servir. Com laivos de peça do Brecht, antes de eu, lamentavelmente, ter de sair na minha paragem eis o que foi dito:
Ele- anda toda a gente a correr, uns para um lado, outros para outro. Mas eles não sabem que não é a gente que manda no tempo, o tempo é que manda em nós...
Ela- pensam que estão a fazer aquilo que querem, mas andamos todos é a fazer o precisamos...
Ele- não vale a pena correr, quanto mais se corre, mais parados estamos...
Ela- a gente pensa que não, mas o homem põe e Deus dispõe...
Ele (e com razão e acho que eu, o dred e a tia)- o homem põe e Deus dispõe.
E sai do autocarro estupefacta com o eco do "o homem põe e Deus dispõe".