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Pela segunda vez desde domingo acabei de ver a derradeira analogia entre Carnaval e Crise-de-tudo:
no domingo foi um homem fanhoso, com um cachecol do Benfica, a bater numa branca de neve com metade do seu tamanho;
hoje foi uma neohippie cinquentona a berrar aos ouvidos de uma fada desfraldada...
Isto, meus caros, são as "cegadas" dos tempos modernos!
Agora vou só ali espreitar os Orishas que já que vieram cá à terrinha, uma pessoa aproveita.
Primeiro teremos de contornar um grupo de matulões imberbes e seus balões de água ao fundo da rua...
Ente superior, qualquer um, dái-me paciência!!!
Diz o lifecooler que a Festa de São Gonçalinho "é uma das festas mais queridas das gentes do bairro da Beira-Mar [em Aveiro]. Ao longo do dia as pessoas pagam as suas promessas, ao Santo, atirando quilos de cavacas doces da cúpula para o público".
Ora não é coisa bonita de se fazer porque das vítimas não reza a história e eu conheço uma pessoa que levou à revelia e à traição com uma cavaca no alto da tola.
Doeu-lhe.
Mas retrocedamos antes da cavaca aterrar na cabeça do meu conhecido.
A festa é daquelas que de profanas foram institucionalmente enquadradas e "metidas na ordem" pela Igreja. Se dantes era o caos, agora a coisa é mais ordeira e católica: organização a cargo de mordomos eleitos, mais ou menos, democraticamente, concentração na Capela, entoação de cânticos, mais ou menos, ensaiados, entre eles o hino da freguesia. Destaca-se a "dança dos mancos" no interior da capela: uma performance masculina onde um grupo de homens dança, figindo-se de deficientes.
Segue a comitiva para a rua. Há banda de música e um santo. O cortejo fica entalado entre uma procissão e uma arruada. Quem segue a comitiva até dança. Pára-se na casa dos mordomos (que já se sabe nestas coisas ficam sempre a perder: tempo, dinheiro, privacidade e, se calhar, paciência). Depois de se ter invadido a casa alheia retorna-se à capela. Aí sim, nesse momento é que que se pode canalizar a frustração, a fúria, a ansiedade, fazer balanço, respirar fundo e arremessar com quantas cavacas se puder, quantas mais promessas a cumprir houvessem.
Diz-se que quem pretender manter-se nas boas graças do S. Gonçalinho (não sei se o diminutivo se reportava à sua pequena estatura, ao facto de ser muito fofinho ou de ser o mais novo dos seus irmãos ou se já o pai se chamaria Gonçalo e para a família os distinguir, numa época em que ainda não se havia inventado o júnior, lhe acrescentaram o "inho" ao nome) deve distribuir cavacas aos mais necessitados como forma de pagamento das promessas.
Ora o povo é crente, mas não é santo e qual era a piada de chegar perto de um pobrezinho e entregar, em mão, uma cavaca?!
Nenhuma.
Assim, talvez na perspectiva de entregar a mais do que um pobrezinho a cavaca, talvez porque se consiga, de caminho, acertar naquele vizinho irrascível, as cavacas passaram a ser atiradas do alto da igreja da freguesia.
Como hoje, a bem dizer, pobres somos todos, o resto da população (que deve ser pouca) que não faz fila para cumprir religiosamente a sua promessa, fica no átrio a ver chover cavacas. E mais, fazendo jus àquela característica tão tuga do "guarda o que não queres, terás o que é preciso" tenta-se por vários e tortuosos meios açambarcar o maior número de cavacas possível: vale tudo, desde chapéus de chuva ao contrário, a caixas de cartão de electrodomésticos, a mantas e outras técnicas que nem ao santo lembrariam.
Não consegui encontrar relação entre o santo do século XII (que devia ser um chato pois passou metade da vida, lá para os lados de Guimarães, a fazer serviço de ambulatório, convencendo casais "amigados" a formalizarem a sua união de facto) e o arremessamento da cavaca, mas hei-de debruçar-me sobre o assunto.
O interessante nesta história é o o que continua a mover o ritual em 2008 e o que é que isso nos diz da comunidade que o anima: pequenos e imberbes estudantes de Antropologia uni-vos! Ide até Aveiro no próximo ano, num domingo, perto do 10 de Janeiro, agora só em 2010, e trazei um ensaio sobre o tema que, a ver e até hoje, ainda não conheço nenhum e depois digam qualquer coisa!