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Isto de uma pessoa trabalhar cansa muito. Se fosse só levantar de manhã e ir, trabalhar e vir, a coisa levava-se bem. O pior é o que lá está pelo meio: o trabalho e, mesmo chato, o trabalho que o trabalho dá. Ah, pois é.
Esta coisa da multidisciplinaridade, da polivalência e do trabalho colectivo e "em rede" era boa, teoricamente. Faz úlceras, quase sempre. Se o pessoal trabalhador fosse todo clonado, se calhar a sintonia era maior. Se calhar não havia tanta discussão, a desproporção de dedicação não era tão visível, a consistência da coisa era mesmo sólida, não se teria de ouvir tanta crítica ao lado, não se dispenderia tanto esforço a contra-argumentar. Enfim, podia não ser muito criativa, mas era decerto mais calminha a vida de uma pessoa trabalhadeira. E era isto que se pedia. Era desnecessário ainda alimentar teorias da conspiração, pessoais e grupais, era dispensável andar pelos cantos alimentando iras mudas que, de quando em vez, irrompem quais tsunamis e logo em cima do mais pobrezinho de todos, do mais calminho, daquele que por ser tão atadinho, no meio da confusão, nós até já achamos que ele é que é o supra sonso culpado por todos os males do mundo só porque não fala, não opina e é simpático.
A vida de um trabalhador não é fácil. A bem dizer não se evoluíu muito desde a escola primária, só se aprimoraram dissimulações e ficámos socialmente mais vesgos porque já levámos com muitas experiências desagradáveis, fora as que ouvimos contar e somos já muito inflexíveis.
A esta pobre reflexão me conduziu o facto de me terem acusado de ter mau feitio. Depois de um minuto de pensamento interior confirmo que até é verdade. Agora o meu mau feitio não é diferente do dos outros e não faz de ninguém má pessoa. Quer dizer, ter mau feitio é contra-argumentar e não ficar a remoer, calada? Então, pois tenho. Se eu consigo ver isso porque é há outros que se têm em conta de santos? E logo eu. Eu odeio a vitimização alheia porque simplesmente prefiro ter mau feitio a fazer-me de vítima! Pior que ter mau feitio é também o ter, não o reconhecer, fazer-se de vítima e esperar que lhe deêm razão só porque se age como um tolo sonso! Isto é mau feitio: a incapacidade de autocrítica!
E tudo isto envolto num bonito dia de trabalho em Maio quando eu não tenho férias dignas do nome desde o último Agosto, cheiinha de trabalho e sem paciência nenhuma para ser boazinha.
Congrantulando-me pela visita da Primavera trabalhei hoje 12 horas.
E saí de lá contente.
Os sapatos que vós vedes são, em simultâneo, a minha ode primaveril pesoal e a confirmação da crise económica doméstica em que vivo. Creio ser a única pessoa do país que ainda não viu esses grandes benefícios apregoados e que versam sobre o pragmatismo da descida da taxa de juro sobre o crédito à habitação (do banco) que eu pago há seis anos. Aparentemente é só para o próximo mês. Logo os sapatos são símbolo da minha poupança mensal. São do ano passado e estão em bom estado; logo, serão muito usados até ao fim de Maio, data ainda primaveril em que me darei autorização para dispender mais euros dedicando-os aos meus pés. Isso e uma pedicura com massagem dedo-a-dedo.
As recorrências compartilhadas agora são uma mera constatação filosófica da minha própria existência e, aparentemente, coisas que, volta não volta, teimam em me acontecer. A minha amiga T., sabedora de reiki, dir-me-á certamente que fui eu, por alguma razão desconhecida de mim própria, que conjunturei em termos energéticos e semi-conscientes para essa atracção negativa, mas eu, alegre dogmática, só acho apenas que são coisas mesmo parvas. Assim e porque isto hoje não dá para mais, aqui vão:
- na sexta-feira fiquei fechada em casa, logo de manhã, quando tentava abrir a porta para ir trabalhar. Parti a chave na fechadura. O telemóvel não tinha bateria. Não encontrei o carregador à primeira. Meia hora depois estava a procurar o número dos bombeiros na net. Finalmente consegui que o homem de trinta anos me atendesse o telemóvel. Com um alicate consegui tirar o resto da chave. Liguei para o meu trabalho e eufórica contei em dez palavras a minha epopeia (que de resto devia soar a desculpa mesmo insólita, mas há verdades que são assim!). O homem de trinta anos chegou meia hora depois e abriu a porta em segundos. Gritei, grunhi e amaldiçoei o seu excesso de selo por fechar a porta a quatro voltas quando sai. Entretanto fiquei com a ideia de que a senhora que lava o meu prédio e que foi a minha interlocutora com o mundo exterior durante a longa hora da minha provação, tentando acalmar-me, quiçá pensando que me poderia atirar em pânico do 4º andar, ia falando comigo muitooo calmamente encostada à minha porta, ficou a desconfiar que eu seria uma espécie de mulher do Zé das Medalhas e que era costume o meu esposo me trancar em casa quando me porto mal :) Desde então cruzei-me duas vezes com ela e aquele olhar cúmplice de pena que me oferece pesa-me muito...
- depois, nesse mesmo dia, fui multada à porta do meu local de trabalho por ter ultrapassado em 25 minutos o prazo do parquímetro. Ora eu estava numa reunião, senhores!
- finalmente, no final da tarde desse mesmo dia, tive uma das minhas discussões pseudo- cinéfilas com o senhor do clube de vídeo (que não o Blockbuster) que tem a mania de opinar sobre tudo o que uma pessoa escolhe para alugar e que, como já constatei há dois anos, tem um gosto cinematográfico muito próprio. Não é que perdi uma eternidade a discutir se o género do "Labirinto do fauno" seria ficção (dizia ele) ou fantástico como eu tentava afirmar "Senhor, ficção é tudo o que tem aqui, desde aqueles porno e eróticos aos da comédia e ao meu "Labirinto do fauno"!", "Ai não, não, a menina veja lá que ficção é uma história que não é real da nossa realidade de todos os dias e esse filme que leva aí é ficção, tem monstros e entidades que não são reais!" E eu juro que ele usou a palavra "entidades" e que fez o tss, tss, no fim da frase. Não contente quando me está fnalmente a pôr a bolachinha dvd na caixa ainda se vira e atira-me esta: "Olhe se quer um filme mesmo bom leve este com o Liam Nesson. É um graaande filme!" Tinha assim um nome tipo "Fuga Impalcável" e até lhe dou o benefício da dúvida, mas não tem nada a ver. Isto é um exemplo da não ficção das minhas idas e recorrências ao video clube que noutro dia e não naquele teriam sido muito anti-stressantes.
Ah?! Isto é que foi um dia cheio!!!