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um BOM dia pós NATAL para todos, na impossibilidade de vir cá mais cedo...
E obrigado pelos comentários natalícios ao último post, tão simpáticos!!!!
Estava eu hoje a pensar que a permanência é coisa reconfortante, deveras afirmativa de uma certa estabilidade necessária a muitos.
Olha a permanência em formato de massa para filhós amassada por mim para que a permanência não morra...
E as mãos a seguir... com tratamento afincado que eu não gosto de más aparências manuais...
Olha a mesa natalícia com a fatia dourada e arroz doce da mamãe... ah... permanência boa...
Olha a permanência de um gato a escavacar a árvore de Natal (é permanência porque já é o segundo ano!)...
Mas depois assolou-se-me à mente que, pelo contrário, a permanência nem sempre é uma coisa boa e, muitas vezes, até chega a ser dispensável; outras irrita porque a permanência, por vezes, anda de mão dada com o conservadorismo. A permanência é assim sobrevalorizada: simplesmente há coisas que são necessárias, há outras que não.
Afinal nem tudo o que existe é relevante e nos dá uma sensação de reconforto nostálgico.
Tomemos, por exemplo, aquele anúncio velhinho, passado num contexto natalício onde, ladeando uma árvore de natal ainda em versão pinheiro verdadeiro, uma criança de tranças e um avó colesterólico, se entretêm a enfiar figuras de chocolate nos ramos afiados: “agora o coelhinho, agora o pai natal, a seguir o sininho…” e por aí até que a criança fazendo apanágio da sua condição, embirra que não é assim perante a complacência do idoso, terminando com a frase “não, não, o coelhinho vai com o pai natal e o palhaço no comboio ao circo!” E a idílica cena termina com a marca chocolateira e um close up da janela. Ora bem, este anúncio andou, tal como hoje os do bombom elitista onde, numa suave tensão erótica, a super-esposa-de-homem-muito-bem-na-vida e o mordomo bem apessoado divagam sobre os apetites incontinentes da primeira. Passam na televisão, ano após ano, até toda a gente se fartar. Já devia a criança, do primeiro anúncio, ter 20 anos e o velhote ter perecido e aquilo ainda ia para o ar. Eu aposto que em muitos lares deve ter havido lugar para um comentário televisivo do género “Raios partam este reclame que já chateia e me enerva, todos os anos é a mesma coisa!”. Agora que aquilo deixou de passar há para aí uns vinte anos, já ascendeu a clássico da publicidade e a património cultural português, de tal modo que se aquela loja do Chiado que comercializa memórias passadas em formato de artigos de consumo comum que já não se encontram em muitos sítios também comercializasse dvds de anúncios antigos, ele estaria certamente no top e muita gente pagaria as exorbitâncias do preçário aplicado para guardar e rever a preciosidade datada que antes enervava e agora deixa saudades.
E já agora, peço licença, mas termino aqui porque ouvi dizer que a rtp ia passar a "Música no Coração" e eu quero ver se ainda apanho a antepenúltima cena em que a família canta toda juntinha (e sob grande pressão) o Edelweiss [é antes do mocinho adolescente traidor e fascista denunciar as 10 alminhas e, ufa, acabarem por serem salvas em boa hora pela freira boazinha e assexuada (que isto entre a religião e a política nos anos 40 aparentemente era fácil perceber que ainda se podia confiar mais na 2ª)]. É que eu já passou quase um ano em que vi pela última vez (e em simultâneo pela trigésima primeira) e eu já estou com saudades...
Ele há permanências e permanências... Das más coloco o circo de Natal em primeiro: atentar contra a dignidade animal em 2008 faz alguns dos meus genes primitivos regredirem à condição neandertalesa e eu não gosto.