Segunda-feira, 23 de Março de 2009
de que havia um latente "make my day" escondido no filme!

Eu confesso aqui que a fase "Dirty Harry" nunca me convenceu. Já a anterior, a do western spaguetti, fez-me lentamente mudar de ideias. Ora bem, eu sou uma rapariga relativamente jovem e, se atentarmos que já o Clint andava a distribuir socos e chumbos ainda eu não era nascida, constata-se que não segui a carreira do senhor de forma muito cronológica. Logo, levei com os dirty harrys duma vez, em simultâneo com a ascenção do vídeo caseiro, e só mais tarde veio o Sergio Leonne, já com vhs. Assim, achava eu, até relativamente tarde confesso, que o Clint era um mix de Bud Spencer, mais magro, com a expressão facial congelada de um Segal (credo, as coisas que pensamos quando somos piquenos) e a sorte de lhe terem escrito uma fala que pegou, qual Schwarzeneger.
Ora a minha relação com o senhor senior mudou muito quando vi o filme Bird (em vhs, seguida duns lps do Charlie Parker); uma pessoa que soqueia a torto e a direito faz um filme assim... hum... Depois foram as Pontes de Maddison County onde, eu confesso senhores, que entre os meus olhos embargados até considerei que sim, estava enganada, o homem até tinha jeitinho para aquilo e não batia na Merly Streep, o que já era ganho.
E depois de muitos desencontros foi o Mystic River que o colocou num lugar cimeiro no top thwenty do meu coração cinéfilo.
E ontem fui deleitar-me com este filme que, não sendo o filme do ano, é o filme do trimestre. E só pelo facto do senhor senior se dar ao trabalho de realizar, produzir e actuar, escolhendo um argumento que retrospectivamente faz uso das nossas reminiscências dirty harrianas mais profundas para evidenciar o facto de que as coisas são como são, qual destino qual carapuça! A ideia de que com a idade cronológica possivelmente encontraremos sempre possibilidade de expiação sobre tudo o que nos vai acontecendo na vida por mais caquéticos que nos considerem ou estejamos é sempre uma mais valia. Logo, gostei deste filme, gostei do Clint, dos pequenos pormenores guturais e faciais, do uso que faz das suas limitações e da inteligente escolha de argumento.
E ainda sorri bastante, mesmo no final.
Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2009
Ou sou eu que estou com uma pontaria míope ou deveria começar a atentar na crítica cinéfila, o que me permitiria poupar dinheiro e investi-lo somente em filmes que valessem a pena.
A ver, fui ver…
“A Troca”, esse “senhor” melodrama que me saciou sobremaneira da saudade que o cinema mais clássico americano já me estava a deixar. Com dignidade, bom gosto, admirável reconstituição de época; uma excelente Angelina, cabisbaixa e impotente num mundo dominado e gerido por homens, em agonizante sofrimento transposto para os gestos, para o olhar, para o uso de todo o corpo na representação. Uns planos e uns ângulos determinantes para a construção dos ambientes e uma história trágica bem apresentada e conduzida. O Estwood é um senhor e se demonstra agora uma veia oliveiresca fazendo um, dois filmes por ano, prefiro-o ao português porque este sabe sempre contar uma história aos outros, não é egoísta e não a conta só a si próprio. E o “Gran Torino” é já a seguir.
“Vicky, Christina, Barcelona”. Saí de lá com um sorrizinho amarelo de princípio de dor de dente: ai Woody, filho, estás tão negligente! Aquilo não é filme que se apresente depois de um currículo tão brilhante. Ou, por outra, se calhar aquilo é filme que se apresente com um currículo tão brilhante, eu já estou por tudo. Fica-se à espera do momento em que das personagens arquétipo-insonso se passe para alguma profundidade, incluindo a narrativa de onde se dispensava o narrador, pois que há pouco para narrar. Tu estás lá e és a Christina, achei eu, mas fiquei à espera do desenvolvimento. Valeu o Javier, o homem-mais-feio-mais-giro que conheço.
Depois, pensei, “Epá apetece-me ver um filme de acção”. Fui ver o “Valquíria”. Fiquei um pouco irritada: o potencial histórico do episódio era um bom mote, mas senti-me um pouco infantilizada no visionamento. A história apresenta-nos o bem e o mal dentro do grande mal maior do nacional-socialismo alemão levado ao extremo e já prestes a dar o último suspiro. Ora se uns são maus porque fazem a máquina andar e a guerra rolar; os penitentes são bons porque querem encrencar a máquina, acabar com a guerra e matar o mauzão. Ora todos nós sabemos que de boas intenções está o inferno cheio e o que eu gostava e estava à espera era que a profundidade de ambiguidades das personagens estivesse presente, tanto mais o facto da coisa assentar num caso verídico. Como já não tenho cinco anos e os bons só são bons quando têm alguma coisa a ganhar ou a perder aquilo não me convenceu. Excelente filme de acção para quem vá sem pretensões historiográficas. Bom filme de acção, de qualquer modo, pois aquilo é dum ritmo acelerado de ficarmos sem fôlego e bem montado. Mas falta-lhe uma coisa que para mim é determinante: a fundamentação e enquadramento da acção (humana, neste caso). O Tom, rapaz que não aprecio muito, está igual a si mesmo (à excepção do “Magnólia”), ou seja, razoável e sem brilho, pagaram-lhe e ele trabalhou.
Não contente, acompanhei o homem de trinta anos ao visionamento do
“Rapaz do Pijama às Riscas”. Deveria ter ido para a sala oposta e entrado no
“Quem quer ser Bilionário”, mas não o fiz e em má altura. É que não há necessidade uma pessoa que não partilhando daquelas ideias negacionistas fundamentalistas proferidas pelo bispo mediático na semana passada (e se querem saber mais o
maldonado discorre muito assertivamente sobre isso aqui) se deprima desta maneira. Ai que filme mais triste! Saí do cinema com um mau humor descomunal, passei a noite deprimida e acordei de ressaca no dia seguinte. Mais uma vez, este filme também nos apresenta duas versões de opinião divergente dentro da mesma massa nacional saudosista de um antigo império austro-húngaro liderada por um dos maiores psicopatas do século XX que vê numa ideologia assente na invasão e na desumanização de um grupo social, fazendo apanágio da crise económica, a única via para o ganho eterno de uma hegemonia nacional-mundial-planetária-alucinada. Só que neste filme, de produção mais modesta, mais sóbrio, mais contido, mais narrativo, o ambiente vai sendo construído por pequenos pormenores e gentis apontamentos, deixando-nos mergulhar docemente no ambiente da época através de uma casa e de uma família, fios condutores da história. À medida que a acção se desenrola a casa e a família vão sendo deslocalizadas, sofrendo transformações, sendo expostas e desagregadas em proporção ao horror, a pouco a pouco desvelado, materializado num campo de concentração, metáfora daquilo que de mais hediondo o Homem consegue conceber, e vai matando lentamente, não somente judeus, mas também a casa e a família. O mais chocante e desconcertante é que tudo aquilo que vamos vendo e intuindo e engolindo até mais não poder é-nos filtrado pelo olhar ingénuo de um rapaz de oito anos e enformado na relação, pueril e desinteressada que nasce da inocência e alheamento infantis, com outro rapaz de oito anos num mundo muito mais complexo fora do seu domínio, mas que deterministicamente lhes enforma o futuro divergente. Desumanização vs humanidade; ódio vs amizade e aquilo que nos une separado artificialmente por uma grade. O filme termina como deveria terminar. A acção mais repugnante a voltar-se casuisticamente contra quem a sustenta e silêncio. Silêncio e um grande plano final que dura e dura e silenciosamente nos remete para a constatação de que a História é mesmo cíclica e não deveria ser porque não faz sentido, porque se em cada pessoa jaz toda a humanidade, esta não está imune à prática recorrente da acção mais hedionda contra os outros, contra ela própria. Recomendo vivamente, mas não pensem que saem do cinema leves e contentes.
Agora, tentarei o “Revoluccionary Road”, o do Danny Boyle e talvez o “Benjamim Button”, mas só depois do "Leitor", se ainda for a tempo. Para quem já viu: aceito recomendações sobre cada um, pois a confiar no meu instinto que muda de cada vez que tenho de escolher ainda vou ver aquele filme pastoso com o Dustin Hoffman e a Emma Thompson e esse eu sei que não quero…
Domingo, 24 de Fevereiro de 2008
Terei certamente uma semana cinefilamente muito ocupada, pois estou com um atraso de filmes como há muito tempo não tinha e agora lembraram-se todos de desatar a estrear para fazer pendant com os óscares. Não há fôlego que aguente, ainda por cima a política suburbana da Lusomundo já me custou pessoalmente o filme do Ang Lee e, face a esta catadupa de filmes, já me remeti apenas ao meu pessoal essencial.
E assim estou a tentar um alinhamento cronológico futuro entre este

mais este, quase a expirar o prazo,

segue-se este, já atrasado também,

mas primeiro tem de ser este, por duas razões só minhas:
acho o gajo mesmo giro, mas mesmo muita giro. Ok? Este homem para mim pontapeia o Pitt e o Cloney para longe, mas bem longe (e ainda por cima faz sapatos em Itália o que deve dar sempre muito jeito e poupa-se um dinheirão em capas e solas. É só ganho).
E depois porque é indiscutível e uma verdade universal que, se o cinema é uma arte, este homem é o verdadeiro artista. É mesmo bom naquilo que faz. Nunca é mau. Não consegue. Nem fraquinho. Nem assim, assim.
Por isso, vai este primeiro

simplesmente porque não podia ser outro, até já se fala da melhor interpretação de um actor neste século!!!
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E aviso desde já que nem vale a pena comentarem depreciativamente o facto de eu achar o Daniel Day Lewis giro porque já ouvi exclamações de incompreensão, ao longo da minha vida, sobre este facto e tal não me faz inverter a opinião. Mas eu sei que há mais como eu...
sinto-me: mortinha por 1 sala de cinema