
O mundo muda todos os dias. O mundo acaba todos os dias. Quem permanece nem sempre se apercebe dos epicentros da mudança. A mudança só à distância é perceptível. Necessita de um salto espácio-temporal. Nada se analisa sem distância. Ou analisa? Desde as lições que a História (longa) nos dá, às (r)evoluções económicas, nada se lhes compara quanto a mudança das mentalidades consequente. Depois existe a escala. Há o aqui e há o lá. O aqui é o nosso umbigo (e Portugal é um buraco sem ligação). O lá é o resto do mundo. Falam dos norte americanos como auto centrados e ignorantes, mas nesta encosta atlântica também há muitos inscientes etnocentrados. Estes dias (leia-se anos) estão repletos de frases feitas onde se prefixa a "crise" para qualquer análise de curta distância. Estas coisas, já se sabe, porque já muitos sobre elas se debruçaram e nunca ouvi explicação melhor adequada, vêm de cima para baixo. São as elites, senhores. As elites determinam o modus, as bases, cá de baixo da pirâmide social, copiam-nas (muitas vezes sem se aperceber). Nesta microescala, a Europa está para uns como a ponte (é uma passagem), para outros como outra dimensão, para mim como a "elite" (a pobre comunicação social que temos também aí figura). Ela faz, ela manda, o homem segue. E não se pensa. Este país é uma espécie de terapia do riso para a Europa, pelo menos para os quase três dezenas de europeus unidos. Se calhar também para o resto do mundo. Se fosse a haver uma análise ao substantivo crise associado ao plano económico e social, numa espécie de questionário porta a porta, acredito que os resultados fossem uma miscelânea confusa. Crise do quê? Do emprego, da educação, da justiça, da ausente natalidade, da crescente imigração, da segurança social, da finança, dos valores? De tudo porque, a jusante, ninguém consegue identificar onde nasce a crise. Nem os que governam, nem os que pretendem governar. Das lições que se tiram das mudanças em sociedade, a macro escala nunca foi alheia. Há dez anos que andamos a debitar conversas de café, já chateia continuarmos assim. Pegando num telejornal qualquer (são todos iguais, mudam as nuances de lobby económico, mas resultado final é parecido): - Aquilo do Meco- não interessa como notícia. Eram adultos, acidentaram-se. A responsabilidade é dos mesmos. Os seus pares continuam a praxar-se em plena cidade universitária às dezenas, todos os dias e estamos em Março, de caloiros já só sobra a pobre auto-estima; - Notícias da Ucrânia misturadas com as da Venezuela- nenhuma informação de fundo, de contexto, não há paragem entre as duas convulsões, respeitando a distância de continentes, só para uma pessoa conseguir pensar. Pobreza noticiosa; - Assaltos, assaltos, homicídios e assaltos- coisa insólita. Nunca a sociedade portuguesa foi tão fustigada pela ladroagem? -Comentadores que fazem extensão da sua carreira política na televisão, uma espécie de pré reforma. Sempre os mesmos, sempre a mesma falta de ética. Oi? Há gente (ainda) nas universidades que pensa, já pensaram ir lá buscá-los?, - Notícias sobre quem vive abaixo do limiar da pobreza. Sem contexto, sem respeito, sem culpados, entre uma reportagem da feira do mel e outra do concerto do Tony carreira. Caem ali de paraquedas, esquece e passa a outro. Há uns sete anos que andamos com a "crise" de mão dada e ninguém a reconhece. No fundo, é um Carnaval permanente, pobre, lá está, mas muito folião. A máscara deve cair na próxima geração. Continuará a haver Carnaval? Podemos substituí-lo pelo bom gosto veneziano?