A mulher de 30 anos não era nascida no 25 de Abril de 74; não ouviu radionovelas e não vibrou com o Festival da Canção. A mulher de 30 anos tropeçou em dois séculos e está aqui! Também opina, ainda não é anciã e agora é mãe

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Terça-feira, 20 de Maio de 2014

Ah e tal, porque é que não colocas mais coisas no blog sobre a tua filha e fotografias dela, ah? Porquê?

Fashion adviser: fotografia não editável e intragável se forem fashion victims. Chamo-lhe "outfit à la kusturika". Foi ela quem o escolheu: em cima de um belo fato de treino, um pijma de verão da minie. Atenção tudo em torno de pantone roxinho, rosinha e fuschia. Atenção aos ténis hello kitty, só mesmo para ser criativa.

 

Isto é o máximo até onde vou em termos de exposição.

 

Porque, apesar de ser ecologicamente responsável, vários álbuns de fotografias com legendas personalizadas são muito mais engraçados, na minha perspectiva, do que um babyblog. Ao que se acresce o facto de, no fundo, as coisas relacionadas com a minha filha serem dela, não minhas, apesar de eu achar o máximo e não esquecer o dia em que naquele bacio se defecou uma bonita pôia, pela primeira vez fora da fralda. Isso e toda a historiografia do seu crescimento pertencerem a ela e à família e, lamento, desconhecidos, sabem-se lá vindos de onde e para onde, não serem metidos nem achados na sua vida.

 

Segundo porque se eu tivesse nascido e crescido com a internet não ia achar mesmo piada nenhuma a que fotografias da minha pessoa em vários estádios da minha existência pululassem virtualmente por aí para sempre, que me reconhecessem, que os meus amigos partilhassem parte da minha vida, qual Ed tv e que eu pudesse ser reconhecida por responsabilidade de outros que não eu, a mais interessada, mas que fui sendo escarrapachada na internet anos a fio sem me perguntarem nada. Não é a minha atitude parental.

 

Não acho bem nestes tempos de hiper-exposição em que a imagem vale mesmo mais que muitas palavras, em que ela domina e dela emanam juízos de valor, em que a imagem se sobrepõe a princípios, a valores e, sobretudo, em que o livre arbítrio é cerceado pela constante rapidez de imagéticas sobre tantos e tão variados assuntos, onde se cerceiam os tempos naturais da assimilação e formação de cadeias entre signos, significantes e significados, não acho bem, dizia eu, que se atirem seres cognitivamente em desenvolvimento e incontinentes (aka bebés e demais crianças) para um universo paralelo desregrado e acessível onde essa imagem pode servir interesses muito beatíficos, mas outros completamente doentios. Por causa destes últimos, diluídos entre muitas pessoas normais e idóneas, estou certa, é que não há fotografias para ninguém aqui neste blog e, por outro lado, por respeito à privacidade da minha descendente é que não há grandes descrições das suas conquistas naturais de pessoa em desenvolvimento.

 

Espero ter respondido à questão que, regularmente, me fazem, apesar da resposta ser sempre a mesma, mas com a diferença de que, a partir de agora, posso remetê-los para este link.

 

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publicado por amulherdetrintaanos às 15:47
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