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E o que é que se faz quando nâo se tem nada para fazer? Ter, ter, até teria, mas a prescrição médica de não apanhar correntes de ar e descansar mesmo muito não deixa motivação para grandes planos. Estar em casa a aboborar não é, de todo, a coisa mais feliz do mundo. Assim enquanto espero resultado do último exame que me há-de dar libertação caseira tenho dormido em quantidades generosas como não o fazia há mais de dois anos. Mamãe e homem de trinta anos são chefs gourmets. Filhinha dita não vai à rua, mamã doente.
Assim, oscilo entre tentativas de leitura
Folhear de revistas coloridas
Planos de bricolage desmotivadores
Pentear cabelos com o meu alisador pouco utilizado
Comer
Comer
Nos intervalos, comer
Pouca tv
Muita net
Arrumações pequenas
E este sábado culminava um trabalho de 5 meses de intensa pesquisa, trabalho de campo e recolha oral inédita e eu não vou estar lá para ver os olhares das pessoas que viveram aquilo e a quem só passados 50 anos lhes pediram para contar como foi. Pedimos, eles contaram, relembraram, buscaram documentos e fotos e coisas e outros nomes e nomes que já são óbito, mas que para eles estão tão vivos como há meio século atrás. E mesmo que não gostem da forma irão sempre comover-se pelo conteúdo que são eles pelos olhos dos outros, mas são eles. No seu discurso, através das suas memórias, são eles a lembrar outros, sem o desconhecimento e a incerteza de então, sem o medo, mas com a mesma esperança de quem reconhece a liberdade porque nasceu e cresceu privado dela e o arquétipo mais parecido era um ideal. Uma geração inteira de pessoas livres a quem privaram da liberdade anos a fio. E eu vou estar em casa. A recuperar.
Porque passaram 35 anos (e uns 4 dias...) que a liberdade nos caiu ao colo e porque desde então não lh esgotámos possibilidades;
Porque a utopia da construção democrática há 35 anos parecia estar ali mesmo à mão;
Porque a democratização de acessos à saúde, à educação, à inclusão, à habitação, ao emprego ainda não foi cumprida;
Porque existiram milhares de pessoas presas, detidas, espancadas que hoje recebem reformas miseráveis quando foram movidas por uma ideia de liberdade colectiva e a colocaram acima do seu interesse individual;
Porque eu nunca percebi como as pessoas que as prenderam, torturaram e, nalgumas vezes, mataram nunca foram julgadas e hoje recebem reformas porque prestaram serviços públicos;
Porque a liberdade de livremente pensar, cantar e falar não tem preço que a pague;
Porque o facto de ter havido 25 de Abril e a guerra colonial ter terminado a seguir não fez da minha mãe viúva antes que, de potencial projecto, eu pudesse passar a coisa prática,
Porque como cantava o José Mário Branco, nós todos viemos de longe, de muito longe e passámos muito para aqui chegar.
Estas, entre outras e mais filosóficas, as minhas razões para não esquecermos o dia para que, os 48 atrás dele irremediavelmente associados, não se voltem a repetir.
Com atraso, mas com muita convicção!