
Os desenhos animados, após a entrada na creche, são uma coisa incontornável por muito que se tente afastar seres pequenos de um ecrã.
Pequena rebento (antes do jantar): mãeee... Noddy... tuvisão... (com olhinhos semicerrados a fazer lembrar o gato do Shrek)
Mãe/eu: Ah, queres ver o Noddy pela enésima vez, são sempre os mesmos episódios... (caramba, já não consigo ouvir a voz do boneco, tão farta que estou daquilo. Até já apelidámos o dito de Nódoa cá em casa)
Pequena rebento (impassível): mãeee... Noddy... tuvisão...
Mãe: Não queres antes ver o Ruca ou a Minnie? (Sim, ao que uma pessoa desce...)
Pequena rebento (eufórica, como se estivesse a responder em coro): Chim!!! Chim!!! Minie, chim!!!
Mãe: Vai de Minie. Olha a Minie, que gira, vai levar um lanche ao Pateta que está doentinho...
[E a Minie caminha, pulando, com o farnel na mão, por uma estrada, cantando com aquela voz esganiçada de Minie. Eis que surge o Bafo de Bode. Aquele bisonte, muito bruto. A mãe contextualiza.]
Mãe: Olha, este é malandro, quer ficar com o lanche do Pateta. É muito guloso.
Pequena rebento (franzindo a testa): mãeee... num gôta. Num quéu mais.
Mãe: Oi, então porquê?
Pequena rebento (desesperada, tapando os olhos): é mau, é mau, é mau...
Mãe: Pronto, está bem. Olha vamos ver aqui no computador uns clássicos da Disney, curtinhos. Olha este dos três porquinhos. Tão lindos. Estão a construir casinhas.
[E os porcos cantam e constroem e cantam e constroem.]
Pequena rebento (fascinada): É o pôco, ronc-ronc!!!
Mãe: Ah, pois é, são três. Olha agora o malandro do lobo a espreitar! Quer destruir a casinha.
Pequena rebento (aterrada): mãeee... não... ôbo mau... num gôta... num qué!
Mãe: Mas o lobo é só malandro, não vai fazer mal...
Pequena rebento (gritando): é mau, é mau, é mau...
Mãe (penalizada): olha, vemos outro. Olha este tão bonito. São umas ovelhinhas e os seus filhinhos. Olha aquela não tem filhinho. Ah, ficou triste. Espera a cegonha já lhe trouxe um leão. Olha que giro, é quase igual ao patinho feio. Estás a gostar?
Pequena rebento (como se estivesse acompanhada pelo coro de Santo Amaro de Oeiras): Chim!!!
Pai (muito pedagógico): Olha, ninguém brinca com ele porque ele é diferente, é um leão. Olha ele tão triste...
Pequena rebento (coisa mais boa): num chora ião... num chora...
Pai (explicativo demais): Olha, já cresceu. Que grande juba! Que grandes patas! O leão agora protege os mé-més todos. É forte. Olha lá vem o lobo... Ele bate no lobo...
Pequena rebento (em pânico): Nãoooo!!! Num qué!!!
[Desata num berreiro. Mãe e pai, em simultâneo a tentar desligar youtube. Bebé continua a gritar]
Mãe: Pronto, pronto, não há mais. Desculpa, não sabíamos que este também tinha lobo... Vamos jantar!
Pequena rebento que pára de chorar repentinamente (com olhinhos semicerrados a fazer lembrar o gato do Shrek): mãeee... paiiii... Noddy... tuvisão...
E pela centésima terceira vez viu-se, nesta casa, "Noddy e a grande troca de duendes".
Sem lobo.