Sexta-feira, 25 de Outubro de 2013
Ontem fiquei chateada com uma colega minha que, a meio, de uma selecção de fotografias, num impasse de pura subjectividade estética, sem outro argumento melhorzinho, se vira para mim e diz: epá, tu agora ficas deslumbrada com qualquer fotografia onde se vejam crianças, mas eu não!
Assim.
Oi?
A rapariga misturou tudo e saiu-se com esta. Reconheço, fiquei mais sensível a bebés desde que fui mãe. Só isso. Acho-lhes mais piada, há outra empatia. Não exagero, contudo. Não ando para aí a falar de bebés a toda a hora, nem me transformei numa pessoa fofa e cutchi-cutchi. Continuo a tratar muito bem da minha veia irónico-caústica. E, de todo, o facto de ter sido mãe me toldou o raciocínio: há lá coisa mais expressiva do que uma excelente fotografia com 60 anos de duas crianças descalças a brincar com paus e pedras, no meio de um descampado cheio de lixo quando se pretende ilustrar a permanência e a mudança social, ao mesmo tempo. Para além da excelente qualidade da fotografia, existiam ali inúmeros pormenores onde as pessoas se podiam identificar e distanciar daquele tempo. E não é isso o que uma fotografia deve cumprir? Despertar alguma coisa sem precisar de legenda?
Bom, só lhe disse que era muito injusto e errado aquele raciocínio, voltando a explicar-lhe tudo como se ela própria fosse uma criança. Nem me chateei, fiquei só a pensar naquilo.
Eu até percebo que no sítio onde trabalhamos mais em permanência, ela e eu eramos as únicas pessoas sem filhos e eu tinha outra disponibilidade mental para várias coisas que nos ocupavam tempo e eram divertidas. Das coisas em comum, só o facto de eu ter uma criança é que mudou e, com isso, o meu tempo (que não é elástico) . Eu acho que para ela, não. Como se ser mãe fosse sinónimo de fraqueza, fraco discernimento, pouca disponibilidade para todas as outras coisas da vida. Aí acho mesmo que está errada: ainda ela vem fresca para o trabalho e já eu tratei de mim, acordei, beijei, dei comida, mudei fralda, penteei, lavei, fiz tó-tós, brinquei, arquei com criança para o carro, carro-infantário, infantário-choradeira, choradeira-beijinho, beijinho-carro outra vez e aí, sim, chego ao trabalho.
Isto é só um exemplo de que a vida muda com um filho, mas o nosso cérebro não aparvalha (pronto, pode aparvalhar um bocado), não ficamos menos inteligentes, nem piores profissionais (acho que essa premissa implícita no comentário é que me irritou), quando muito ainda exige maior concentração para fazer face ao cansaço das manhãs e das noites interrompidas 500 vezes.
Notinha: ao fim do dia vem-me dizer que concordava com aquela fotografia, era realmente a melhor. Resposta minha: "Sempre achei isso e demorei menos tempo a descobrir!" (acompanhei com um sorriso "materno", pronto).
De
Ben a 26 de Outubro de 2013 às 12:17
Nunca fui mãe... Dificilmente o serei lol sou um homem de (quase) 30 anos [até parece anúncio à procura de companheira lol] que sabe bem o que são sentimentos ... Portanto essas coisas são normais! Mas se até dizes que nem mudaste tanto... São os dias... Há dias assim ... Já falaram, é o mais importante... E voltem a falar se preciso! Melhor... Conversem... Porque só a falar parece que não vai lá
Fartinha de conversar. No "problemo"!
Está esclarecida e resolvido a questão o que não quer dizer que não surjam mais situações do género.
Por vezes as pessoas que nos rodeiam fazem ideias a nosso respeito que nos deixam...irritadas. Pelo menos a mim deixam
Sim, é verdade. Nós mudamos com a maternidade. Mas também concordo de que existe um certo 'estereotipo' de que mudamos drasticamente com a maternidade e isso nem sempre se aplica.
É como muito bem diz. Se antes comentar uma fotografia com crianças poderia significar que apreciamos a arte da foto em si, depois de sermos mães de certeza que é por nos termos transformado em Marias-Madalenas. DE CER-TE-ZA!!
Ora BAHHHHH! Para essa gente toda!
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