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Sou uma pessoa que se empenha nos fins de semana. Gosto deles repletos de acção. Odeio chegar a domingo a cheirar a sofá. Não gosto. Dá-me uma sensação de tempo perdido, de ver a vida a passar enquanto se olha para a televisão e se come abundantemente.
Ainda antes do fim de semana, munida de espírito de classe e da liberdade que este país ainda dá, fui-me manifestar. Não tirei fotos porque esqueci a máquina em casa, mas lá estava eu a calcorrear dos Restauradores ao Ministério das Finanças reivindicando em grupo uma maior coerência e um bocadinho mais de respeito pela função pública em geral e, entre outras coisas, pela dignidade que todas as profissões merecem e a minha não é excepção.
A Função Pública é uma grande amálgama de gente: desde os carteiros aos cantoneiros, dos enfermeiros aos professores, no ornanigrama estatal concentram-se milhares de especialidades, incluindo a minha. Neste momento sinto-me mal-tratada enquanto trabalhadora do Estado (sinto mesmo: economicamente, reflexivamente- na expressão cliché da opinião pública de "os funcionários públicos é que estão bem- pessoalmente e socialmente). Hoje em dia o cliché anterior é parvo de ser usado. A Função Pública hoje não é uma república das bananas, se algum dia foi, esses dias já passaram. Eu não passo o dia a arranjar as unhas e a ligar às amigas; eu não saio quando me apetece e eu não ganho mais do que um homónimo meu numa empresa privada (por acaso até ganho menos). A manifestação não teve só a ver com o congelamento salarial que já se esperva depois do aumentozinho do ano passado, tem a ver com um sistema de avaliação por quotas completamente viciado, tem a ver com a progressão em carreiras alongadas e de difícil subida, tem a ver com o envelhecimento da função pública em geral e a não reprodução para novas gerações de lugares de trabalho que fazem falta e são ocupados por contratados, não resolvendo a situação nem contribuindo para a qualidade de serviços prestados, tem a ver com muitas outras coisas que quem acha que quem trabalha para o Estado o anda a chular, deveria ler, quanto muito na internet, não vão mais longe e não comprem um jornal. Em relação ao congelamento até digo mais: congelem-me, não me importo, mas deixem os funcionários públicos que ganham 500 euros descongelados. Onde é que está o sentido de pôr toda a gente no mesmo saco? Entre o cantoneiro com uma família numerosa e um funcionário público com uma família numerosa que ganha mais de dois mil euros onde é está o sacrifício? E a classe política seguir o exemplo da homónima irlandesa e receber menos 20% do salariozinho mensal? E a frota de carrinhos usados dos ministros e secretários de Estado às suas famílias e que servem para os lazeres dos filhos e das esposas? Aí não se corta? Não. O bom mesmo é dar continuidade ao odiozinho de estimação que a opinião pública sempre cultivou ao funcionários públicos. Querem bode espiatório para a dívida pública: a culpa é dos funcionários públicos. Para a crise? Hum... funcionários públicos...? Para o desemprego? ah, pois... funcionários públicos... Pouca produtividade... Claro! A questão ´esta: a Função pública e os aumentozinhos anuais serviam de padrão para o privado. este ano isto vai ser um argumento espectacular para os patroezinhos deste país darem 0% de aumento aos seus funcionários. De certeza.
***
E numa tentativa de ultrapassar a má digestão da fraqueza de argumentos destas medidas avulsas que o governo rumina e regurgita para cima dos cidadãos incautos, mas também para combater alguma inércia invernal demos continuação ao périplo da estação: descobrir os jardins de Lisboa (e arredores). Na semana passada, o jardim do Palácio do Monteiro-mor, próximo do Lumiar.
O jardim ladeia dois edifícios do antigo conjunto que, recuperados, albergam o Museu do Traje e o Museu do Teatro.
O jardim clássico é muito bonito. Tem aquele encanto de nos permitir imaginar um tempo perdido. A mim, pelo menos, estes sítios recônditos pelos quais o tempo parece não passar aguçam-me a imaginação e despertam-me o fascínio de percorrer uma arquitectura onde nos recantos se deve ter passado uma imensidão de coisas... um imaginário romântico à laia do último filme sobre a vida amorosa do Keats.
O jardim valeu mesmo a pena. O Museu do Traje é um bocadinho uma tragédia. Eu percebo que o "novo" IMC (instituto dos museus e conservação) tenha poucas verbas. O jardim deve-lhes levar muito dinheiro, mas uma amostragem de colecção como a que têm patente na única exposição do Museu é coisa muito pobre: os trajes, as peças principais, estão ali ao pó. Se o restauro têxtil é caro, não se justifica que não se encontre uma forma de expor roupa sem ser ao ar e à mão de ser tocada, afagada, espremida pelos curiosos que ali vão. Se não se percebe o porquê dos núcleos que compõem a exposição (século XVIII, XIX e XX e não outras épocas), não percebi mesmo como é que o século XX é representado por uma orda de manequins sem cabeça todos ao lado uns dos outros, com legendas difíceis de ler e de encontrar e umas ropinhas que, francamente, me fazem lembrar a casa de uma senhora onde eu ia com umas amigas comprar roupa "vintage" que é como quem diz em 2ª mão. Nem me vou adiantar porque fiquei mesmo muito irritada: dá uma imagem muito provinciana de museu a qualquer pessoa que lá vá e ajuda a prolongar a ideia que todos os sítios "culturais" são secantes e maltratados.
Um passeio pela praia e o encanto new age da ausência de banhistas só é possível no inverno. Com frio. Muito frio. Ninguém para lá vai.
O resto do fim de semana dediquei-o ao artesanato amador. Pincelei furiosamente verniz por umas bases de copos
e ainda restaurei o meu carrocel. Uma preciosidade muito datada já que a base se roda e dá música. Passei anos sem saber qual era. Descobri entretanto que foi banda sonora de um filme mainstream dos anos 70: o "love Story", aquele em que o menino rico se apaixona pela menina pobre, mas inteligente e muito independente, mas ela morre e ele fica destroçado. Há certas coisas que era melhor não descobrirmos...
Pintado, envernizado e de volta à minha prateleira pop/kitch.