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Passear em Lisboa é banal. A menos que não se tenha Lisboa próxima. Ali à mão. Descobrir urbanidades dentro da urbe é sempre a mais valia de qualquer cidade. Para além dos epítetos. Um deles a de "espaços criativos" ou de "cidades criativas". Para quem pensar em cidades por defeito profissional, vale a pena. Para quem quiser somente passear, não vale de nada olhar para as coisas e para os seus rótulos, como se de enlatados se tratassem, e dizer: "Ah, eu hoje vou à cidade criativa!". Não é inteligível, não é prático, não é nada.
Pela primeira vez visitei o espaço, reformulado, primogénito da Fiação de Tecidos Lisbonense (meados do século XIX) e fiquei feliz da vida.
Lá está uma bela ideia com uns dois anos de prática que, apesar dos arranques e dos solavancos, começa a prometer tornar-se um nicho economicamente representativo de práticas, consumos e dinâmicas que fazem sentido numa cidade grande.
Pessoalmente, a recuperação, revitalização, reformulação do espaço é a grande novidade. Seria idealmente tão bom assumirmos o passado e as memórias dos nossos lugares, dando-lhes novas extensões sociológicas.
Cheira a novo e cheira a fábrica e é impossível não tentarmos imaginar como seria há cem anos o mesmo espaço, os diferentes ruídos, os cheiros, o calor e a sujidade. Como seria a cidade que agora pisamos e que já foi pisada e por onde, na mesma calçada gasta, tantas solas já passaram, carregando as pessoas; pessoas e outras pessoas. Tão diferentes essas pegadas de há cem anos das solas de hoje. A cidade, contudo, é a mesma. Está ali o que foi e o que é. Guarda a memória ainda, mas não a usa como uma farpela demodé. Dá-lhe dignidade.