A mulher de 30 anos não era nascida no 25 de Abril de 74; não ouviu radionovelas e não vibrou com o Festival da Canção. A mulher de 30 anos tropeçou em dois séculos e está aqui! Também opina, ainda não é anciã e agora é mãe

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Segunda-feira, 20 de Abril de 2009

Recorrências

 

Congrantulando-me pela visita da Primavera trabalhei hoje 12 horas.

E saí de lá contente.

 

Os sapatos que vós vedes são, em simultâneo, a minha ode primaveril pesoal e a confirmação da crise económica doméstica em que vivo. Creio ser a única pessoa do país que ainda não viu esses grandes benefícios apregoados e que versam sobre o pragmatismo da descida da taxa de juro sobre o crédito à habitação (do banco) que eu pago há seis anos. Aparentemente é só para o próximo mês. Logo os sapatos são símbolo da minha poupança mensal. São do ano passado e estão em bom estado; logo, serão muito usados até ao fim de Maio, data ainda primaveril em que me darei autorização para dispender mais euros dedicando-os aos meus pés. Isso e uma pedicura com massagem dedo-a-dedo.

 

As recorrências compartilhadas agora são uma mera constatação filosófica da minha própria existência e, aparentemente, coisas que, volta não volta, teimam em me acontecer. A minha amiga T., sabedora de reiki, dir-me-á certamente que fui eu, por alguma razão desconhecida de mim própria, que conjunturei em termos energéticos e semi-conscientes para essa atracção negativa, mas eu, alegre dogmática, só acho apenas que são coisas mesmo parvas. Assim e porque isto hoje não dá para mais, aqui vão:

 

- na sexta-feira fiquei fechada em casa, logo de manhã, quando tentava abrir a porta para ir trabalhar. Parti a chave na fechadura. O telemóvel não tinha bateria. Não encontrei o carregador à primeira. Meia hora depois estava a procurar o número dos bombeiros na net. Finalmente consegui que o homem de trinta anos me atendesse o telemóvel. Com um alicate consegui tirar o resto da chave. Liguei para o meu trabalho e eufórica contei em dez palavras a minha epopeia (que de resto devia soar a desculpa mesmo insólita, mas há verdades que são assim!). O homem de trinta anos chegou meia hora depois e abriu a porta em segundos. Gritei, grunhi e amaldiçoei o seu excesso de selo por fechar a porta a quatro voltas quando sai. Entretanto fiquei com a ideia de que a senhora que lava o meu prédio e que foi a minha interlocutora com o mundo exterior durante a longa hora da minha provação, tentando acalmar-me, quiçá pensando que me poderia atirar em pânico do 4º andar, ia falando comigo muitooo calmamente encostada à minha porta, ficou a desconfiar que eu seria uma espécie de mulher do Zé das Medalhas e que era costume o meu esposo me trancar em casa quando me porto mal :) Desde então cruzei-me duas vezes com ela e aquele olhar cúmplice de pena que me oferece pesa-me muito...

 

- depois, nesse mesmo dia, fui multada à porta do meu local de trabalho por ter ultrapassado em 25 minutos o prazo do parquímetro. Ora eu estava numa reunião, senhores!

 

- finalmente, no final da tarde desse mesmo dia, tive uma das minhas discussões pseudo- cinéfilas com o senhor do clube de vídeo (que não o Blockbuster) que tem a mania de opinar sobre tudo o que uma pessoa escolhe para alugar e que, como já constatei há dois anos, tem um gosto cinematográfico muito próprio. Não é que perdi uma eternidade a discutir se o género do "Labirinto do fauno" seria ficção (dizia ele) ou fantástico como eu tentava afirmar "Senhor, ficção é tudo o que tem aqui, desde aqueles porno e eróticos aos da comédia e ao meu "Labirinto do fauno"!", "Ai não, não, a menina veja lá que ficção é uma história que não é real da nossa realidade de todos os dias e esse filme que leva aí é ficção, tem monstros e entidades que não são reais!" E eu juro que ele usou a palavra "entidades" e que fez o tss, tss, no fim da frase. Não contente quando me está fnalmente a pôr a bolachinha dvd na caixa ainda se vira e atira-me esta: "Olhe se quer um filme mesmo bom leve este com o Liam Nesson. É um graaande filme!" Tinha assim um nome tipo "Fuga Impalcável" e até lhe dou o benefício da dúvida, mas não tem nada a ver. Isto é um exemplo da não ficção das minhas idas e recorrências ao video clube que noutro dia e não naquele teriam sido muito anti-stressantes.

 

Ah?! Isto é que foi um dia cheio!!!

publicado por amulherdetrintaanos às 23:00
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5 comentários:
De Fátima Bento a 21 de Abril de 2009 às 15:16
Deixa lá que comigo só não têm acontecido coisas assim estranhas porque só hoje - quase uma semana depois de me ter demitido! - é que saí de vontadíssima própria da cama. Ontem também saí, fui ao Continente estoirar os pouquíssimos trocos que me sobram do meu aparvalhante-ordenado-pago-ao-dia, em tralhas para a casa, assim com se num passe de mágica me pudesse transformar numa Fantástica e Fabulosa dona de casa!

De qualquer maneira, o que me leva a comentar o teu post, é que a aventesma do empregado/dono, ou o que é, tem razão em relação ao filme do Liam Neeson. Chama-se "Taken" no original, e é, de facto, muito interessante, para quem gosta de ficar colado ao ecran. Vi-o à dias, numa das minhas maratonas cinéfilas pela noite dentro, tal como vi "Inkheart", "Twilight"...

Acho que o "Taken" é capaz de apelar mais à testosterona que ao esterógenio, mas mesmo assim, vale a pena ver.

(agora, comecei a ver o "burn after reading", e dei de caras com um George Clooney TÃO estranho... pode ser que ele mude o aspecto um bocadito mais para a frente - só vi mesmo um 'cadinho...)

Bem, olha, fica bem que eu vou fazendo os possíveis...

B'jinhos,

Fátima
De amulherdetrintaanos a 28 de Abril de 2009 às 21:22
Pois, apesar de não ter logo respondido, fui ver o "Taken" que afinal está traduzido como "Busca..." qualquer coisa, esqueci-me, para grande gaúdio do senhor do videoclube. Pois que gostei. Realmente para puro entretenimento é dos melhores filmes de acção que me lembro de ter visto desde há muito. Uma pessoa até parece que fica cansada no fim daquela correria toda! Estás melhor depois da decisão? Bj
De Fátima Bento a 29 de Abril de 2009 às 00:53
Yup, acho que o pior já passou, e o que não passou, vai passando.

Há duas noites atrás vi dois filmes de uma assentada, o primeiro "Solestício", com um grupo de adolescentes, e sobrenatural, e coiso, um filme de sustos ( palavra qu'inda dei um pulo na cama...) sem que nenhum morra.

Viu-se.

E a seguir vi um que recmendo: "While She Was Out", com a Kim Basinger. Recomendo. Mesmo a sério. Não é mexido da mesma maneira do "Taken", mas e mexido, 'alright'!

Vê, se puderes, que não te arrependes.



De Maíra Bezzi a 25 de Abril de 2009 às 23:10
É, tem dia que as coisas não dão realmente certo... Devo dizer que acho que concordo com sua amiga que dá reiki... hehehe...
Desejo a vc dias melhores e muito, mas muito mais dinheiro!!!!
De amulherdetrintaanos a 28 de Abril de 2009 às 21:23
E muito agradeço o desejo, mas, realmente, o dinheiro não é sobrestimado. Com tantas notícias de desemprego e fome uma pessoa até fica um bocado envergonhada de se andar a chorar por não comprar uns sapatos este mês :) Bjs

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