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Pois. Eu a bem dizer não precisava de mais desafios porque a minha quota-parte já ficou preenchida esta semana depois de 5 dias certinhos sem automóvel (que jaz sozinho na oficina-hospital- e é bem feita para não ser um traidor sem timming), ficando dependente dos transportes públicos aqui da zona. Acrescemos a isso a chuva e temos um belo desafio!
Mas vou responder a mais dois. Um que já tem barbas e do qual a fátima já deve ter desistido de ver se eu o agarro e outro da inês (que depois do repto lançado ainda me faz sentir responsável pela boa gestão do mesmo).
O primeiro consiste em escrever, em relação a cada questão das seguintes, a palavra que melhor corresponde.
Eu gosto muito de palavras, sempre gostei; mas não sou daquelas pessoas boazinhas e fofinhas que gostam de dar abracinhos e distribuem sorrisos à sua volta; já me acusaram de frieza devido à minha aversão a lamechices e reverências de etiqueta sem sentido e, por isso, vou responder de forma muito directa e sem muitos psicologismos, intenções morais meritórias ou afirmações ideológicas subjacentes.
Só com base nas palavras, na relação afectuosa e conflituosa que com elas mantenho, com livre associação e alguma justificação, respondo da seguinte maneira:
1. Qual é a mais bela palavra que conhece?
- Significado
(viram?! Devia ser “mãezinha”, “vozinha”; “florinha” ou “amor”, mas não é. Escolho “significado” -primeiro porque a minha mãe não se deve importar que tem mais coisas em que pensar e depois porque o Saussure e a sua lógica da Linguística nunca me hão-de abandonar na vida- para o bem e para a tormenta. “Significado” pressupõe correspondência e dá-nos imagens mentais para percebermos o mundo; porque sem “significado” nada teria sentido e seríamos estrangeiros em todos os lugares, tempos e relações; porque sem conseguirmos atribuir “significado” não saberíamos reconhecer a beleza, mesmo que levássemos com ela na tola e ao lermos o José Cardoso Pires e a sua “Valsa Lenta” isso se percebe muito bem).
2. Qual é a palavra que melhor comunica doçura e gentileza?
- Mimo
(ou de forma muito piegas, “miminho”- não confundir com esse boneco- também ele já trintão- munido de uma chucha, com um corte à tigela e franjinha, que fazia bolhinhas se lhe espetássemos com o biberão pela abertura bocal adentro, ofertado a tudo o que era rapariguinha entre o final da década de 1970 e o início da seguinte. Toda a gente precisa de mimo, desinteressado, atencioso, mais metafórico ou mais directo. Eu pessoalmente só gosto daquele que tem bom gosto; o que inclui “falar à bebé” causa-me calafrios e irritação).
3. Qual é a palavra mais detestável e horrorosa?
- Carepa
(logo, logo a seguir vem a “caridade”; mas a “carepa” ganha porque
é a palavra mais feia que me lembro de existir na língua portuguesa e com uma sonoridade pior ainda; um substantivo para uma coisa inestética; nunca gostei, pronto).
4. Qual é a palavra mais terrível e medonha?
- Desoxirribonucleico
(em ex aqueo com outros termos médicos ou de outras áreas técnicas igualmente restritas, longos e entediantes, que estão fora do meu domínio e, por isso, permissivos às mais variadas divagações hipocondríacas. E isso não é bom aqui para a moçoila de trinta anos).
5. Qual é a palavra mais azeda e malévola?
- Ruim
(azeda talvez, malévola, já não sei, a menos que a ruindade seja a génese para o desenvolvimento de uma vingança cruel e terrível ao tom daquelas das telenovelas em que durante 300 episódios o mauzão arquitecta um plano para conduzir à loucura ou à bancarrota o seu arqui-inimigo. Cá para mim, a ruindade não é uma palavra lá muito propícia a devaneios de aspiração da felicidade, leva à acumulação de energias alternativas não muito saudáveis, à exaustão, à mesquinhez, ao bater na mesma tecla, ao cansaço, à pescadinha de rabo na boca, ao círculo vicioso e não dá dinheiro a ninguém. E ainda por cima faz-nos parecer uns canídeos na sua vocalização “rrrrr”. Não gosto).
6. Qual a palavra que melhor exprime o sentimento de solidão?
- Melancolia
(que eu até aos 10 anos pensava que era sinónimo de “alegria”… ah, doce ingenuidade! A “melancolia”, a meu ver, é subvalorizada; em doses certas nunca fez mal a ninguém e conduz gentilmente à introspecção que deve ser exercitada regularmente).
7. Qual é a palavra que mais lhe suscita cólera e agressividade?
- Ignorância (grunhice)
(pronto, também não irei tão longe, não me desperta assim muita cólera, nem muita agressividade, talvez mais impaciência. E por “ignorância”, no sentido socrático, do grego, não do português, refiro-me à daquele tipo do “não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe e não preciso de saber, pois que eu já sei tudo” e é geralmente acompanhada de afirmações fóbicas de cariz social que afectam outros que não os “ignorantes” que as sustentam. Nada tem a ver com frequência escolar, analfabetismo, infoexclusão ou a ausência de conhecimento sobre estes ou outros conteúdos adquiridos pela educação formal. Tem a ver com a postura perante a vida e os outros. A ignorância deste tipo afecta todas as classes e os mais variados e elevadíssimos graus académicos, caracteriza-se por uma ausência de espírito crítico, uma mão cheia de ideias feitas, opiniões vazias e radicais, parvas como tudo e sem sustentação, quase sempre acompanhadas por egos enormes, apanágio de pessoas estúpidas como uma porta).
8. Qual a palavra que melhor comunica felicidade?
- Flanar
(bonitinha, suave; faz parelha com o ócio, mas dá-lhe uma intenção; pressupõe o uso dos sentidos e faz lembrar coisas bonitas de se fazer como “deslizar”, “planar” e tem também um certo encanto. Pequena, mas, quanto a mim, subvalorizada no vocabulário de uso corrente).
Agora o segundo é sobre os 7 pecados mortais. Eram sete, mas a Igreja, no ensejo de renovação que a modernidade lá lhe vai aguçando, actualizou há pouco os pecados mortais que deixam de ser meramente relacionados com a individualidade para ascenderem a critério colectivo. Assim se listaram novas situações que, sem arrependimento ou confissão, condenam a alma humana. Mas pronto, esquecendo que a poluição e a desigualdade são novos pecados ficar-me-ei pelos clássicos.
A bem dizer nós não temos nada a ver com o pecado. De forma agnóstica ou de vivência de bom selvagem o que nós tínhamos eram tabus. E ainda temos. O pessoal humano cá se ia arranjando colocando ordem no social, proibindo, mitificando, vivendo feliz e contente tal qual como no filme do Schmayalan (agora não sei se está bem escrito) que se chamava “A Vila”, mas, no fundo, era um pinhal. A religião não nasce da ideia de Deus, nasce dessa necessidade humana de sacralizar o mundo para lhe dar sentido e conseguir viver nele com os outros sem nos matarmos e comermos mutuamente.
O Mircea Elíade lá me foi explicando, no século passado, que é na construção do sagrado pela sua vivência que o Homem complexifica e interpreta o social. E todos os povos arranjaram um modo cultural de se organizarem.
Como diria um avozinho que a Inês também conheceu, a importância de conhecer o fundamento religioso da civilização ocidental é tão grande que devíamos todos já ter lido a Bíblia (auto-flagele-se quem nunca o fez e depressa, depressa ao confessionário). Nunca o fiz, fiquei pelas aulas de catequese da menina Vinda (que era menina, mas já tinha para lá de cinquenta anos naquela franjinha esbranquiçada).
Diz-nos o nosso mito fundador ocidental que herdámos o pecado cometido por Adão e Eva e com ele a perda da vida eterna e descansada e todos os azares daí decorridos. Um dos grandes paradigmas será a anulação da vontade individual face à vontade divina. Podemos fazer aquilo que fizermos, pecar os sete pecados um de cada vez ou todos em simultâneo que existe sempre uma esperança de redenção. Desculpabiliza-se assim o Homem pelas suas acções desde que o arrependimento seja sincero. E com isso vem a ideia de que não somos nós que traçamos o nosso destino: o livre arbítrio acaba com a escolha, mas o percurso até ela foi estabelecido por algo sagrado, fora do controlo humano. Daria uma excelente discussão e já deu muitas letras de fado, mas voltando aos meus pecados.
Como eu gosto é de pecados, fazendo apanágio de uma educação que, da tentativa de ser muito católica, apostólica e romana, foi sofrendo, com o tempo, de muito senso comum profano até à mais completa racionalização céptica, eis que agora me pedem isto...
Os meus pecados são também os vossos e quem nunca pecou é porque nunca fez nada interessante na vida. Vidinha chata que deve ser essa...
Gula moderada. Não fosse o colesterol mauzão, herança genética inultrapassável, ascenderia a um pecado de grau elevadíssimo. Poder-se-ia afirmar como gula de um estádio de desenvolvimento ainda muito infantil: doces, rebuçados, gelados que coabita agora com uma vertente gourmet ainda em franco subdesenvolvimento: framboesas, massa folhada de farinheira com ervas aromáticas e rúcula a acompanhar, degustação de queijos acompanhada por excelentes (e caros) vinhos, jantares no lounche bar japonês ali para os lados de S. Pedro de Âlcantara... Mnham, mham
Avareza
Não lhe chamaria avareza é mais outro resquício de um passado colectivo de índole "pobrezinho, mas honradinho" com uns pozinhos de luta de classes em que a mais baixa nunca poderia ser avarenta para continuar baixa e lutadora e por ter mais em que pensar e um provérbio familiar centenário passado de algum tetra avô e que versava: "não sejas como o Marquês de Bronze que ganha dez e gasta onze". Pura poesia cultural!
Inveja
Nada, nadinha. O poucochinho mais parecido é uma veia pequenina a atirar para a cobiçosa: "Que bela malinha, tens tu! Onde compraste? Onde? Onde?" que ascende ao mitológico "Ai, Adão, filho, que bela maçazinha, dá cá a mim, dá lá..."
Ira
Muito irada, sim senhor. Só por este pecado o psicótico do "Seven" matar-me-ia com laivos de malvadez colocando alguém a gritar aos meus ouvidos até estes explodirem. Sim, eu sou uma espécie de Penélope Cruz no actual "Vicky, Christina, Barcelona".
Soberba
Também já me acusaram disso. O orgulho é difícil de engolir, mas com o tempo faz úlceras, de modo que peco de soberba moderada.
Luxúria
“Como um poente congestionado/De vagalumes irreais/ É o sete-estrelo desenfreado/Rosa de chamas descomunais/Saltam-lhe os pulsos como foguetes/As mãos são Vestas embriagadas/Parando as cenas dos banquetes/Em saturnais carbonizadas(…)E um Desejado de lua nova/Noivo da Pátria vem finalmente/Buscar a noiva para a sua cova/E dá-lhe a Morte como presente” (isto é que é luxúria e não coloquei o poema todo)- Natália Correia
Preguiça
"Everybody seems to think I'm lazy/I don't mind/I think they're crazy/Running everywhere at such a speed/Till they find, there's no need" (I´m only sleeping; the beatles)
ufff...
(... e perguntarão vocês: que configuração mais estranha tens tu neste template!!! Ao que eu respondo: pois é, pá! Não sei porquê, mas fui acometida de preguiça súbita e não vou tentar descobrir!)