Como anunciei solenemente um post dedicado às mulheres e às motas para auto celebração do meu dia da mulher e como esse dia já passou, penintencio-me com o post prometido, esmerado no trato semântico, mas muito subjectivo na mesma porque eu não tenho paciência para uma investigação profunda sobre engenharia mecânica e design de motociclos. Por isso aqui vai e tenho dito. Se ocorrer pelo meio alguma imprecisão vocês avisem que eu sou muito tolerante à crítica. Se, como eu, não conduzem uma mota, mas já têm horas de assento equivalentes às exigidas para tirar o livrete de piloto aviador, podem sempre ler e opinar.
Primeiro ponto: a mota
Raparigas, se sois daquelas para quem um homem numa mota é a loucura ou então a mota já veio como acessório do vosso jeitoso ou, ainda, se vocês ou os vossos mininos decidiram agora adquirir uma... ATENÇÂO. Andar de mota não tem o encanto poético que se pensa tout court e, por vezes, principalmente em períodos de calor e muitos insectos, nem a aura mística e libertária que lhe atribuem porque, por exemplo, nos Diários de Che Guevara eles nunca engoliram um mosquito.
Se ainda vão a tempo de opinar sobre a compra da dita, no caso de ser só um projecto, participem na decisão, vão ao stand e sentem-se em cima dela. Integrem o test drive se caso for: há motas desconfortáveis como o raio e o pior é que, se são desconfortáveis para o condutor, o pendura é sempre, mas sempre, o mais sacrificado.
Nas de pista, torçam logo o nariz (gritem, amuem, simulem um desmaio ou amuem se for preciso, pois a longo prazo é uma questão de sofrimento) face a um banco que remete o pendura para o topo da mota e cujos únicos apoios são umas pezeiras que vos fazem ir quase com os joelhos no queixo ou se a inclinação do banco é tal que sejam literalmente empurradas para cima do vosso motard. Ok, até pode ser estiloso, mas dói como tudo após 50 quilómetros em estrada e ficam com uma dor muscular de ir tanto tempo, literalmente, esborrachadas contra as costas do mocinho, com os braços esticados e as mãos, cai não cai, no depósito da gasolina. O mesmo para as shoppers (do tipo Harley Davidson) sofrem do mesmo, pois geralmente o banco traseiro é tão minimalista que vos deixa a circulação sanguínea bloqueada e uma sensação de dormência em tempo reduzido; contudo, têm a vantagem de ter umas pezeiras à altura mais ou menos ideal, proporcionando uma boa estabilidade da coluna.
As motas de turismo são aqui eleitas como as melhores para o pendura porque, em grande parte dos modelos, o banco é mais direito, o assento das pezeiras mais ergonómico, o que significa uma optimização proporcional entre conforto e comodidade mais permanentes e resistentes à trepidação do veículo.
As motas mais utilitárias (que não são feitas só para estrada, mas sobretudo para percursos urbanos onde há buracos, curvas acentuadas e empedrados) têm geralmente um assento pouco generoso para o pendura, mas, em contrário, têm uma maior proporcionalidade entre a distância das pezeiras e o assento, o que faz com que as pernas não estejam demasiado esticadas, nem por demais encolhidas e o banco seja mais estável e não vos empurre para cima do condutor.
O ideal é uma mota onde vocês se sentem e consigam agarrar-se de lado (bancos sem aros para pendura agarrar é suficiente para vocês opinarem “next!”), onde o vosso tronco permaneça direito (em ângulo de 45 graus com as perninhas) e consigam agarrar a barriguinha do motard. Caso a mota eleita não tenha encosto existe sempre a possibilidade de colocação de uma mala traseira que, na maioria dos modelos disponíveis, traz um encosto estofadinho para os penduras. Grande atenção também à posição do escape no veículo: nunca adquiram uma onde as vossas pernas distem apenas uns centímetros do escape! Quanto mais perto estiver do corpo, mais probabilidades há de, com um descuido, irem lá tocar e se queimarem na perna.
Se estão a ponderar comprar uma ou se ainda vão a tempo de participar na aquisição de mota alheia, estes factores são determinantes para o vosso bem-estar futuro.
Eu discorro sobre isto, mas ando sentada numa FZ6N da Yamaha que só me dá tranquilidade às costas se for a percorrer uma auto-estrada. Numa estrada nacional é mais um contributo significativo para a minha escoliose... E tanto parlapié sobre o vestuário e nesta foto nem tenho o meu casaco Nirvana com gore-tex, nem as minhas botas da tropa para dar o exemplo... Para a próxima mostro os ditos...
Segundo ponto: o vestuário
Este é mesmo muito importante e vai, em muito, para além da parte estética.
Segue uma lista de coisas perniciosas para quem se for encavalitar numa mota. Estão banidos os seguintes itens:
- as saias ou os vestidos. Pois, eu sei que parece mentira, mas eu já vi e digo-vos que não é bonito. Para além de exigir uma flexibilidade de ginasta russa para conseguirem subir e permanecer em cima do assento, pode acontecer algo mais grave como, por exemplo, prenderem tecido à correia ou à roda (eu estava a pensar em saias compridas, mas já vi uma jeitosa com saia curta). Já nem menciono o estado das pernas se caírem;
- as havaianas, chinelos, sandálias e saltos altos são proibidos. Caso a mota derrape e caia, mesmo que a queda seja “pequena”, são sempre os pés, os primeiros a sofrer! Para além disso, a deslocação do vento traz outras maravilhas consigo, os insectos: quem nunca experimentou levar com uma abelha na cara a grande velocidade que diga que não tenho razão! E nos pés também dói! Conselho: sapatos ou ténis resistentes; mas o preferível é também proteger o tornozelo com umas botas robustas e, se não quiserem gastar dinheiro em equipamento especializado, umas biqueira de aço resolvem bem a questão. Partindo para outra extremidade corporal: nunca, mas nunca esquecer de usar e proteger as mãos com umas luvas protectoras adequadas para a motoqueirise.
- roupas largas é para esquecer se não quiserem ser levadas pelo vento ou que alguém vos aviste, qual balão semi cheio, em andamento: é desconfortável e irão todo o percurso a fazer um esforço extra para manter o equilíbrio. Dentro desta categoria entram casacos tipo kispo, de penas, polares e tudo o que não seja justo e deixe o ar entrar. Aqui sugiro que invistam num casaco de uma marca especializada em equipamento para motas e o adeqúem à vossa silhueta porque, para além, de virem munidos com forro e com protecções extra para locais anatómicos frágeis (clavícula, cotovelo e costas; fáceis de retirar e colocar) são impermeabilizadas com um material designado de gore-tex, sendo muito quentes, ajudam a conservar a temperatura corporal e, se levarem uma chuvada, resistem muito tempo secas. Atenção, estes casacos são sempre mais volumosos: manda o coding dress que para baixa estatura se opte por um modelo mais cintado e curto e, para estaturas mais altas (o meu caso) um casaco cintado, mas mais comprido (pela anca); caso contrário, as primeiras ficam a parecer uns ursinhos e as segundas habilitam-se a ficar com as costas à mostra. Rondam os 450/550 euros, mas a durabilidade, conforto e segurança compensam;
- capacetes largos, nunca. O capacete é a peça fundamental da actividade motoqueira e a sua importância é totalmente relacionada com a segurança. O ideal será o modelo clássico fechado (certificado) que protege toda a cabeça, maxilares, orelhas e base do crânio. A ideia de que para a praia ou viagens curtas se podem usar os vulgarmente designados “penicos” ou “capacetes de jockey” não tem nenhum sentido porque os acidentes acontecem e são imprevisíveis, logo, o melhor é protecção sempre, mesmo que para isso se sintam com calor e um pouco de claustrofobia. Como qualquer outro acessório, os capacetes têm medidas adequadas a cada crânio e, por isso, é tudo uma questão de experimentar. O melhor capacete é aquele que vos parecer extra-apertado na primeira vez que o experimentem: as esponjas interiores terão de vos espalmar as bochechas e a viseira deve ficar, literalmente, centrada entre a parte baixa da testa e o meio do septo nasal. O teste final para confirmarem a adequação total à vossa cabeça faz-se com outra pessoa a abanar furiosamente o vosso capacete já colocado, para a direita e para a esquerda. É à vossa medida se ele não abanar e permanecer centrado. Não se preocupem que, com o tempo e o uso, uns dias depois, o capacete já se adequou à vossa tola e torna-se mais confortável. Apesar de existirem muitos modelos e marcas no mercado; os que melhor equilibram a qualidade e o custo são os Arai e os Shoey. A partir de 300euros, mas como só temos uma cabeça, vale sempre a pena.
Cenas dos próximos capítulos (para ler com entoação de novela brasileira):
questões femininas prementes que “só lembram às mulheres” porque a parte do cérebro masculino que se devia lembrar dessas coisas é a menos desenvolvida (esta foi mazinha) e uma listinha de sites e blogs sobre o tema muito simpáticos.