Quarta-feira, 30 de Outubro de 2013
Esta foto foi antes de um louco ataque de gansos. Ouviram dizer que ia haver conferência do Paulo Portas, de certeza.
Terça-feira, 29 de Outubro de 2013
Desculpa lá, Michel Foucault* que tão bons momentos me deste, mas esta frase é mesmo senso comum, não diz nada:
Somos nós que fazemos o futuro. O futuro é a maneira como reagimos ao que está a acontecer (…) Se queremos ser donos do nosso futuro, devemos fundamentalmente colocar a questão do que é, hoje, o presente.
*“Le monde est un grand asile”, 1994. In Dits et Ecrits vol. 11. Paris: Gallimard, p. 434.
Sexta-feira, 25 de Outubro de 2013
Ontem fiquei chateada com uma colega minha que, a meio, de uma selecção de fotografias, num impasse de pura subjectividade estética, sem outro argumento melhorzinho, se vira para mim e diz: epá, tu agora ficas deslumbrada com qualquer fotografia onde se vejam crianças, mas eu não!
Assim.
Oi?
A rapariga misturou tudo e saiu-se com esta. Reconheço, fiquei mais sensível a bebés desde que fui mãe. Só isso. Acho-lhes mais piada, há outra empatia. Não exagero, contudo. Não ando para aí a falar de bebés a toda a hora, nem me transformei numa pessoa fofa e cutchi-cutchi. Continuo a tratar muito bem da minha veia irónico-caústica. E, de todo, o facto de ter sido mãe me toldou o raciocínio: há lá coisa mais expressiva do que uma excelente fotografia com 60 anos de duas crianças descalças a brincar com paus e pedras, no meio de um descampado cheio de lixo quando se pretende ilustrar a permanência e a mudança social, ao mesmo tempo. Para além da excelente qualidade da fotografia, existiam ali inúmeros pormenores onde as pessoas se podiam identificar e distanciar daquele tempo. E não é isso o que uma fotografia deve cumprir? Despertar alguma coisa sem precisar de legenda?
Bom, só lhe disse que era muito injusto e errado aquele raciocínio, voltando a explicar-lhe tudo como se ela própria fosse uma criança. Nem me chateei, fiquei só a pensar naquilo.
Eu até percebo que no sítio onde trabalhamos mais em permanência, ela e eu eramos as únicas pessoas sem filhos e eu tinha outra disponibilidade mental para várias coisas que nos ocupavam tempo e eram divertidas. Das coisas em comum, só o facto de eu ter uma criança é que mudou e, com isso, o meu tempo (que não é elástico) . Eu acho que para ela, não. Como se ser mãe fosse sinónimo de fraqueza, fraco discernimento, pouca disponibilidade para todas as outras coisas da vida. Aí acho mesmo que está errada: ainda ela vem fresca para o trabalho e já eu tratei de mim, acordei, beijei, dei comida, mudei fralda, penteei, lavei, fiz tó-tós, brinquei, arquei com criança para o carro, carro-infantário, infantário-choradeira, choradeira-beijinho, beijinho-carro outra vez e aí, sim, chego ao trabalho.
Isto é só um exemplo de que a vida muda com um filho, mas o nosso cérebro não aparvalha (pronto, pode aparvalhar um bocado), não ficamos menos inteligentes, nem piores profissionais (acho que essa premissa implícita no comentário é que me irritou), quando muito ainda exige maior concentração para fazer face ao cansaço das manhãs e das noites interrompidas 500 vezes.
Notinha: ao fim do dia vem-me dizer que concordava com aquela fotografia, era realmente a melhor. Resposta minha: "Sempre achei isso e demorei menos tempo a descobrir!" (acompanhei com um sorriso "materno", pronto).
Quinta-feira, 24 de Outubro de 2013
A crise económica não é responsável pelos divórcios, as pessoas envolvidas é que são. Eu cá não acredito nada que na "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão". Quando se ralha há sempre uma razão qualquer e pode haver abundância de pão e ser essa a causa da discussão.
Agora que o pessoal à minha volta se tenha começado a pseudo divorciar (pseudo porque não havia formalização contratual) e desatem os amigos a culpar a crise, eu acho mesmo forçado.
O que a crise faz é um reforço de relações desgastadas. Casais juntos por causa de dinheiro, mau ambiente, tédio e raivinha acumulada. Separação em tempo de crise é uma pobreza desgraçada para um, ou para os dois cônjuges. Actualmente, num casal há sempre um que ganha menos, um que não tem casa própria, um que não tem carro, um que está desempregado e por aí fora. Há sempre um que sai mais fragilizado do que outro e, neste momento, quem se separa pesa muito estas questões, digo eu, pelo que vejo e pelo bom senso também. De modo que se a crise corrói qualquer coisa é a dignidade de uma pessoa sozinha se fazer à vida com oportunidades de subsistência reais e não uma relação. dah!
Quarta-feira, 23 de Outubro de 2013
Prefiro mais sol e pé no chinelo.
Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013
é o tipo de memória que devemos ter aos 22 meses. Depois de dois dias de passeio, sem creche, eis segunda-feira de volta e com ela, logo de manhã, um chorinho de abandono ao entrar na escolinha como se lá nunca tivesse entrado antes.
É uma cena capaz de figurar nas listas das cenas mais dramáticas. Eu a ser abraçada por dois minibracinhos mesmo, mesmo naquela parte do pescoço que nos torna incapazes de muito movimento; consigo alargar, com um braço, o aperto e, em imediato, eis que duas perninhas se enroscam à minha cintura (pequena chimpanzé). Tento libertar as pernocas que me trucidam as ancas e volta o abraço desesperado em torno do pescoço... Vem a assistente da sala muito pronta ajudar a desprender. Criança choraminga e lança-me um olhar amuado (a sério?! com 22 meses e amua logo de manhã?), lá é desprendida e vai ao colo da assistente, evitando olhar para mim enquanto me despeço.
Lá vou eu trabalhar com sentimento de culpa, desfraldada e despenteada. Viva a segunda feira!
Sábado, 19 de Outubro de 2013
Lá para os lados do Peso da Régua no fim das férias de verão.
E agora estou em casa. Ainda ponderei ir à manif com baby pulguinha, mas desisti. Criança cansada de uma semana atarefada, dorme como se amanhã não fosse domingo.
Eu também. Cansada. Podia debitar teoricamente sobre o presente e a mudança de paradigma do mundo ocidental e do sistema democrático, do novo conflito social cuja forma de luta antiga, eu cada vez mais duvido que conduza à vitória final da classe trabalhadora. Aé porque a classe trabalhadora já nem é o bastião de nada, a bem dizer; neste momento, existe toda outra classe desprotegida que vai dos desempregados aos reformados, aos estudantes e ás crianças cujos direitos se vão como se de areia se tratasse a vida das pessoas comuns.
Assim, estou em casa, não posso dizer que sem amarguinho na boca, a ver as notícias na televisão.
Vou comer uns rebuçados a ver se isto me passa.
Sexta-feira, 18 de Outubro de 2013
A Folha do Povo, Lisboa, 19/02/ 1888
O interregno foi longo, mas prometo ser mais assídua. Para já e para alegrar a sexta feira d@ incaut@ que aqui passar, por engano lá está, que depois de tanto tempo, este blog está empoeirado, fica esta nova rubrica estreada hoje: "Às sextas leio jornais com cento e tal anos e comento notícias sem interesse que me ficam na cabeça". Esta é uma delas.
Marie decide-te e não sejas mazinha sem razão: ora ou és apologista da pintura ou não és. Não se percebe. A Marie acha que se pinta com decoro e naturalidade (?), mas já aquelas malucas que andam pelo Chiado são umas excessivas sem gosto. Também se diga que a Marie resume em si mesma anos e anos de competitividade subliminar de género: ora a ela perguntam-lhe porque é que, entre tantas mulheres, há poucas tão belas?! Marie, esta frase foi de homem e mais, Marie, tu vê lá que isto mesmo em 1888 já era um cliché usado na canção do bandido. Então ele deve ter-te dito qualquer coisa do género: Ah, pois tão linda que és assim ao natural com essas olheiras e esse buço encravado e olha aquelas monstras de pele tão branquinha, rosadinhas e de lábios carnudos, ai que camafeus! E tu acreditaste nele. Eu não sei, Marie, como te maquilhavas, nem o que te aconteceu pois que nunca mais escreveste para o jornal no ano de 1888, mas esta carta era desnecessária, tudo se resume à falta de jeito para a aplicação e isso podemos nós comprovar se visionarmos as intervenientes femininas da casa dos segredos mais de 100 anos depois. Ó Marie, se pudesse viajar no tempo levava-te um BB creme e um blush líquido da Benefit e aí é que tu vias o que era natural!