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Não tem limite de tempo e eu já tinha falado sobre as canções heróicas há algum tempo.
Esta, a seguir, é fantástica, gosto do trocadilho e da voz rouca do José Mário Branco. Faz lembrar a onda popular do Fausto porque o Fausto andou pela produção. "A dita dura", Rogério Charraz, 2012
Às vezes considero os americanos uns picuinhas, pieguinhas, mariquinhas do piorio e vanglorio os meus costados europeus. Pragmáticos.
Depois de ler este post e outros semelhantes onde, às regras para adormecer bebés, se sobrepõe a própria vontade (em não adormecer) do bebé levanto os braços aos céus e agradeço à pediatra escolhida para tratar a minha criança. E à minha tentativa de ser descomplicada.
Toda a gente que nos conhece afirma que temos muita sorte em ter uma pirralhinha tão calma.
Até concordo, em parte.
Ela não foi sempre assim.
Nas três primeiras semanas praticamente não dormia de noite.
Pois, isso não se esquece.
Sei bem o que é a privação do sono e as voltas trocadas de madrugadas de inverno em que, quando a criança adormecia era hora de mamar, depois não voltava a dormir e quando estava quase, quase, era hora de mamação outra vez. Berra a seguir, muda cocó, continua a berrar. Um som que me atingia a cabeça e o coração e me punha (ainda hoje me põe) tonta. Tonta e bloqueada. Sem conseguir pensar. Esquisito. No meio, gritos de hamster de meia-noite (e de uma e duas e três da manhã). O pai levava-la na alcofa para a sala, a gritadeira continuava, vai de pô-la na nossa cama, a gritadeira continuava. Experimenta pegar ao colo e embalar, a gritadeira continuava. Ao terceiro dia em casa eu já só queria voltar para a maternidade, sozinha. No fim da primeira semana, o pai perguntava-me (sim, porque os homens perguntam-nos cada coisa mais parva como se pelo simples acaso de os termos parido soubéssemos todos os segredos do universo) se ia ser sempre assim. Na segunda semana estávamos mortos de sono e na terceira andávamos a revezar-nos a dormitar de dia e de noite. Depois a minha criança ficou doente (bad, bad nightmare) e passámos alguns dias no hospital. A mudança de cenário não ajudou a estabilizar-lhe os sonos.
Com a vinda para casa e como ainda era muito pequenina as rotinas que melhor se lhe adaptavam, ou seja, aquelas que, no desespero da abstinência de sono, pareciam adequar-se a nós, os três, foram ficando implicitamente estabelecidas. Como eu estava de licença e ela mamava de três em três horas, a acrescer que era inverno e eu queria mantê-la o mais possível quentinha sem grandes mudanças de temperatura entre compartimentos da casa, ela ficava o mais possível perto de nós: ora na alcofa, ora na espreguiçadeira e quando íamos os dois dormir, ela vinha também. Isto começou a estabilizar uns horários um pouco malucos (acordar ao meio dia e deitar à meia noite) para ela e, no meu inconsciente, começou lá para o terceiro mês a teclar a dúvida que era melhor ela acordar mais cedo para que quando eu fosse trabalhar a criança tivesse uma rotina de deitar cedo e cedo erguer. O facto é que eu achava que meia-noite não era bem uma hora jeitosa para um bebé de meses adormecer, mas, lá está, fiquei bloqueada (o pai também). Achava que se estava tudo a resultar tão bem e ela já dormia de noite, acordando só para comer, qualquer alteração iria destruir noites tão descansadas e despoletar novos berreiros. O facto é que ela se habituou a dormir apenas quando nos sentia presentes no quarto. Se a deixássemos lá sozinha chorava desalmadamente. A coisa tomou proporções tão ou mais ridículas que quando ela começava a querer chorar (porque não nos via, deitada que estava na sua alcofa dentro do berço) nós começávamos a respirar alto (tipo ataque de asma) e a picolina calava-se.
Até que ao quarto mês eu timidamente perguntei à pediatra o que achava. E pois ela achava o que eu pensava que ela acharia que era também o que eu poderia achar se não ficasse bloqueada. Achava um exagero a miúda deitar-se tão tarde! E achava também que ela devia ser mudada para o seu quarto (ai, que aperto no meu coração e lá fiquei bloqueada outra vez) e começar a fazer uma sesta no recesso do seu berço e não na sala junto a nós. Mas era aquilo que eu precisava. Que a médica dela (que a tinha tratado tão bem no hospital e em quem eu confiava precisamente por ser despachada e objectiva) me dissesse claramente. Não pode ser. Eu sabia, lá no fundo, que não podia.
A partir desse dia, ela passou a deitar-se (no nosso quarto ainda) às oito da noite. Acorda às sete e meia. Desde sempre, com algumas excepções. Chucha, fralda, lengalenga da mãe, lengalenga do pai. E dorme (acordar porque perde a chucha não conta). Só chorou muito na primeira noite. E ainda chora em noites em que há festa na casa (mais pessoas, mais excitação...). Vou lá, sempre. Nunca fica a chorar sozinha mais de 2/3 minutos. Não consigo e acho que não adianta nada. Vou lá consolar. Com a vozinha mais fofa e firme deste mundo. Nunca, mas nunca a levanto do berço (só quando está doente). Posso lá ir 20 vezes acalmar a festivaleira, mas nunca cedo àqueles bracinhos esticados. A frustração existe, temos pena. Custa muito, mas custaria mais se a hora da cama se transformasse num festival de pequenos caprichos. É para dormir.
Conscientemente não quis ler nenhuma teoria sobre sono do bébé, não procurei nenhuns artigos na net, não falei com mais ninguém. Para nós fez muito sentido o horário e a necessidade de uma sesta grande de tarde e outras pequeninas ao longo do dia, sempre que ficava rabugenta e sonolenta.
Hoje em dia publica-se tudo, faz-se workshops sobre muita coisa, assomem-se especialistas em cada esquina, a maioria resultado da frequência de muitos workshops e leituras autodidactas. Acho bem que existam especialistas. A minha preferida é a pediatra. Quanto menos complicações, melhor. Para senso comum temos dois cá em casa.
Voltando ao início, eu até percebo que as pessoas desesperem porque a criança não dorme, berra. Percebo que se fique paralizado de cansaço. Agora, dedicar-se ao cruzamento de leituras, correntes e teorias, não escolher nenhuma, ficar com medo de traumatizar a criança por avançar com qualquer estratégia para resolver a coisa e, mesmo depois de escolher o melhor modelo para si, ainda duvidar sobre o possível trauma... isso eu já acho nhoquinhas demais. Enjoativo porque levanta aquela questão essencial sobre a diluição do papel dos pais face aos potenciais traumas da negatividade sobre a criança e que, levados ao extremo dão aquelas criancinhas tirano-ditaturiais, sem auto-estima, sem saber lidar com frustrações e "nãos rendondinhos" que a vida é assim também.
Do sono do bébé depende principalmente o seu crescimento saudável, é verdade, mas depende também a sua alegria esfuziante depois de acordar. E muito, muito importante, a sanidade mental da mãe e do pai, o espaço individual de cada um para ter alguns minutos largos a gastá-los como bem entender e sem coisas de bébé.
Nature's first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leaf's a flower;
But only so an hour.
Then leaf subsides to leaf.
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.
Robert Frost