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Passear em Lisboa é banal. A menos que não se tenha Lisboa próxima. Ali à mão. Descobrir urbanidades dentro da urbe é sempre a mais valia de qualquer cidade. Para além dos epítetos. Um deles a de "espaços criativos" ou de "cidades criativas". Para quem pensar em cidades por defeito profissional, vale a pena. Para quem quiser somente passear, não vale de nada olhar para as coisas e para os seus rótulos, como se de enlatados se tratassem, e dizer: "Ah, eu hoje vou à cidade criativa!". Não é inteligível, não é prático, não é nada.
Pela primeira vez visitei o espaço, reformulado, primogénito da Fiação de Tecidos Lisbonense (meados do século XIX) e fiquei feliz da vida.
Lá está uma bela ideia com uns dois anos de prática que, apesar dos arranques e dos solavancos, começa a prometer tornar-se um nicho economicamente representativo de práticas, consumos e dinâmicas que fazem sentido numa cidade grande.
Pessoalmente, a recuperação, revitalização, reformulação do espaço é a grande novidade. Seria idealmente tão bom assumirmos o passado e as memórias dos nossos lugares, dando-lhes novas extensões sociológicas.
Cheira a novo e cheira a fábrica e é impossível não tentarmos imaginar como seria há cem anos o mesmo espaço, os diferentes ruídos, os cheiros, o calor e a sujidade. Como seria a cidade que agora pisamos e que já foi pisada e por onde, na mesma calçada gasta, tantas solas já passaram, carregando as pessoas; pessoas e outras pessoas. Tão diferentes essas pegadas de há cem anos das solas de hoje. A cidade, contudo, é a mesma. Está ali o que foi e o que é. Guarda a memória ainda, mas não a usa como uma farpela demodé. Dá-lhe dignidade.
Depois do reformado ferrador ter perecido, chama-se Inácio e é sapateiro. Usa um avental de couro e consegue equilibrar um cigarro na boca enquanto trabalha. Ah, valente!
Mas desabafo aqui que hoje fiquei chateada com este artesão de um ofício tão nobre, a quem encarrego, há muitos anos, de me dar novo alento ao calçado: 10 euros por duas solas (glup, perdão, "meias solas" - é meia sola quando não ocupa o pé todo)!!! Não tive direito de reclamar verbalmente, o senhor Inácio tinha o "ateliê" cheio de mulherio com botas nas mãos e depois de ter monopolizado a conversa que antecedeu a alta hospitalar das minhas botas mandou-me embora. Fiz as contas: o senhor Inácio e seu filho vão ficar ricos monetariamente porque de espírito já o devem ser: riem muito e ouvem a rádio palmela (que para quem não sabe é uma estopada contínua de pimbas+fado+pimbas+anos 80 em português popular) e estão sempre coradinhos (em parte o cheiro a cola diário deve dar umas deambulações psicotrópicas valentes). E depois falam dos sapatos que têm hospitalizados como se eles tivessem sentimentos. Exemplo:
- O que estas botas sofreram?! Parece que andaram à pancada (! com quem, pensava eu, com as sandálias que estão a seu lado no meu móvel, senhores?!), diz o senhor Inácio enquanto lhes dá um último toque com um pano encardido...
- Senhor Inácio, andaram mesmo, o meu gato afiou as unhas numa delas.
- Vê-se logo: olha-se para uma e para outra e sente-se a diferença (ele disse "sente-se", atenção, não foi "vê-se" ou "constata-se", não, ele "sente" a dor da minha bota)
- Pois, também por isso é que as deixei cá...
- Você não é a única: as pessoas hoje já não estimam o calçado... depois ergue as botas ao nível dos seus olhos (sempre com o cigarro ao canto da boca) e vaticina: ó muito me engano ou antes do Natal já cá estão outra vez!
Cheguei a casa e inspeccionei o trabalho, aquela última frase soava-me a meia sola mal colada de propósito, mas não, estão ali firmes e direitas. Não percebi: será que ele pensa que os meus pés tortos não são bons o suficiente para as minhas botas? Será que tem um grupo de defesa do calçado negligenciado? De qualquer modo é um homem que leva a sério a profissão: trata melhor as botas que alguns médicos os doentes.
São estes momentos de pura poesia popular o que me faz adorar o comércio local.
E pronto, consegui. Serei a única bloguer que hoje conseguiu não fazer um post sobre a pobre figura de si que uma actriz noveleira com aspirações a escritora fez num programa de mulheres galináceas noutro continente? Falta-lhes ali um Pedro Rolo Duarte (e eu que sou tão crítica ao modelo de programa que o dito jornalista modera... shame on me depois de ver o que vi).
Pronto, falo, falo, mas não me controlei.
Sou pessoa para nunca deixar de ir votar.
Sou uma pessoa fiel: eu continuo a votar na freguesia vizinha à minha, localidade onde me recenseei pela 1ª vez há (glup) 15 anos! E vou a pé. E hoje está calor, pá. Depois sigo o homem de trinta e três anos para a "escola" dele (que sendo uma pessoa bem mais organizada) está localizada na nossa freguesia.
Quatro quilómetros depois estou derreada.
Foste a pé? Ah, pois fui! A par com a sensação de dever cidadão também tenho aspirações saudáveis: com 33 anos é necessário começar a dar outros movimentos às pernas.
E agora estou a ouvir que um votante morreu em pleno acto cívico: aparentemente votar já não é tão saudável como parecia ser. Ops, o senhor votante enervou-se porque ouve um motim na sua sala de voto?! Em Mondim de Basto?! Furou a "greve" ao voto e foi vítima de uma turba? Este país é estranho e confunde muito as coisas: a liberdade individual é cerceada por uma noção de colectivo bem artificial, não? Impedir as pessoas de votar porque se quer a elevação a Concelho tem uma lógica um pouco distorcida, não? Democraticamente falando, claro está.
Interessante o facto do Comité do Prémio Nobel acabar a premiar premiados para quem o dito prémio parecia longe como tudo.
Não me posso pronunciar, pois não li nada da senhora e muito por culpa de um preconceito quase inato. Sou pessoa para estigmatizar premiados. Colocá-los num buraco negro de esquecimento porque me irrita a massificação das suas leituras. Irrita-me principalmente o facto de toda a gente desatar a comprar livros quase de atacado e, de permeio, os depositar numa estante sem nunca lhes pegar. Aconteceu isso com o Saramago. O homem valorizou e negligenciaram-se os seus livros. Do senhor da mercearia à senhora advogada, da senhora doméstica ao senhor de fraque toda a gente ensandeceu numa correria louca para ter um "saramago" e depois ninguém os lia. Eram "chatos" mas tinham um nobel por detrás. Pedantismo pop. E no topo? No topo o mega vendedor de ideias repetidas, o senhor rabbit. E depois de um Nobel? Depois de um Nobel todos se transformam em coelhos. E às vezes é pena. Só agora, uma quantidade de anos passados sobre o nobel da Toni Morrison, é que eu li as coisas dela. E da Doris, o mesmo.
E agora que estava tão contente, mas tão contente, por mais uma mulher (e o nome herta é giro, pá) ser reconhecida num comité tão masculino, lá vou ter de resolver este meu preconceito comigo própria. As nossa editoras são sempre uma ajuda para pessoas como eu: com o tempo que levam a colocar no mercado escritor@s romenos terei tempo de me distanciar do prémio ganho.
E mais esta para vocês, portugueses parolos (que não me devem ler...), que classificam os grupos sociais a partir de tipologias individuais, estão ou não desconcertados pelo facto da herta não ter saia rodada, lenço no cabelo e andar a pedir esmola ou a vender pensos?! Pois, caramelos, como eu estou farta de dizer: os romenos não são todos as minorias nómadas que nos chegam até aqui- fiquem mais descansados- pelos vistos são como nós e também sabem escrever. Dah!
E informo solenemente: a mulher de trinta anos- euzinha- já tem mais três em cima da sua bonita e resplandescente pele. Estou a ponderar mudar o título para a mulher de trinta e três... Parabéns a mim que desde dia 2 estou a mergulhar ferozmente numa trintonice pegada.