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para nada.
Uma catrefada de coisas para fazer no trabalho; situações que se prolongam para além do horário de trabalho; quinhentos mil acontecimentos que apelam à minha, já estafada, polivalência; as coisas pendentes a arrastarem-se, mais telefonemas, mais mails, mais reuniões, mais colegas parvas como uma porta, mais, mais, mais...
Então fico cansada. E apetece-me ter 15 anos outra vez, mas com casa própria e o meu ordenado de hoje e uma turma divertida, não ter contas para pagar e essas coisas todas muito utópicas e ilógicas em que toda a gente pensa de quando em vez.
Quando estou assim leio muito.
E como o meu cansadito cérebro não arranca para um post decente, o computador está outra vez preguiçoso e bloqueia de cada vez que tento responder aos comentários, deixarei isso para a próxima e vou dar uma de senhora-seca-membro-de-um-clube-de-leitura que, neste caso, é só composto por mim e partilho as minhas últimas leituras de há 4 semanas para cá.
Primeiro acabei de ler o livro do Haruki Murakami que me custou, devo dizer, mais do que o primeiro que li (o "Norwegian Wood").
da Casa das Letras
O Haruki é um grande maluco. Eu nem sei se é genial se apenas um enfastiado que escreve bem (e é bem traduzido por sinal). Uma pessoa perde-se num universo que, de tanto descambar para o onírico, nos faz continuar a ler sem destrinça do real e do fantástico. Uma espiral de realidades paralelas onde se perde o Okada e onde me perdi eu. Mas é bonito esse universo. Tão bonito que se torna quase irresistível deixar de ler à procura de um fio condutor, uma resposta que fica sempre aquém, mas que retorna em forma de outra metáfora, outra enfabulação. Irritante, mas poético. Chato, mas incrivelmente bem estruturado.
Dou-lhe três estrelas e meia porque, no fim daquilo, até gostei (como não?).
Depois resolvi comprar, este de uma senhora com ar de avozinha, a Billie Letts.
Em tuguês, "O Estranho".
Gostei. Muito mesmo. Fiquei desconfiada porque o seu best seller anterior tinha sido recomendado pelo "Clube de Leitura da Oprah" (?!). Não é bom sinal. Geralmente são charopadas. Mas este não, ficou omisso no limbo dos livros traduzidos. Gostei da sinopse. Comprei. Muito bom: um retrato sociológico de uma vila perdida em Oklahoma entre reservas índias e a terra "nova": a multiculturalidade e um sistema social fechado. Uma ruptura na comunidade e a sua recomposição décadas depois.
Três estrelas e meia, mais pela análise sociológica do que pela originalidade da história.
Depois fui às compras a um hipermercado e verifiquei que os livros são mais baratos do que na Fnac, folhei este e dei uma oportunidade ao Mark Mills ( um argumentista que, com este livro, se estreou).
O homem é um erudito da mitologia grega com o "Ovídio" à mistura e o "Inferno" do Dante pelo meio. Uma história fascinante passada na Itália do pós guerra. Um jardim renascentista e uma tese de licenciatura do personagem principal. Uma quinta de família na Toscania e uns personagens cheios de vida. O jardim tem um mistério (que, lá está, só um versado em mitologia grega conseguia perceber).
Dou-lhe 4 estrelas, pois não é para qualquer um conseguir misturar tanta erudição e fazer-nos perceber tudo, mais a história e umas descrições de ambientes muito bem conseguidas.
Por fim, acabei há meia hora esta pérola e para ele vão as 4 estrelas e meia, não fora o final que me deixou a procurar a última página, mas, pronto, dar-lhe-ei o beneficio da dúvida e o facto de poder existir uma sequela que me mate a dúvida que ficou a pairar após as 494 páginas...
em português "Desaparecidos" da Civilização.
Moral da história: ler faz melhor que os antidepressivos.
Estive entre Cacela e Vila Real de Santo António com a minha progenitora.
Apanhei todo o sol que consegui.
Como a água é quente para aqueles lados, não ressequi.
Faz-me bem o sol.
Não liguei aos turistas cor de camarão extra cozido. Não liguei aos preços altíssimos da restauração do sítio. Li um livro. Conversei e flanei por lá.
Primeira coisa estranha (parecem que vêm ter comigo!).
Cadé a legenda a explicar o porquê do nome? Ou o obituário? Ou algo que nos faça perceber o motivo de, ao nome mais comum deste país, lhe acrescentarem mais dois e toma lá com a Rua das Três Marias. Quem eram? O que fizeram? Eram irmãs? Viveram uma relação amorosa que chocou Vila Nova de Cacela? Eram desgraçaditas e eremitas a fazer lembrar as moças da Casa de Bernarda Alba, mas só com três irmãs? O Tchecov passou em Cacela? Não sei. O mistério consumiu-me.
Depois não resisti a captar este painel de azulejos cujo tema fica a dever-se a essa sabedoria tão pragmática que é a do povo. "Deitar água na fervura". Magnífico painél que adorna a fachada da ordem e da lei em Vila Real de Sto António. É bonito.
E esta é intrigante ao princípio, quando de Altura para Cacela Velha começamos a ver placas com esta indicação. Indagámos. Era "a" fábrica, ouvimos dizer. Antiquíssimo exemplo de arquitectura industrial. A placa indicaria a fábrica "de tijolo". Vulgo que fazia tijolos. "Ah, deve estar musealizada! Vamos ver".
Era. Pois era. Porque quando lá chegámos, ou seja, três placas depois, uma descida íngreme e uma baía sem saída já nada restava da fábrica. Atrás desta placa, uma terraplanagem. Perguntei a um autóctone: "Ó senhor, não me dizia onde é a fábrica?". "Era ali, agora já não é". Fiquei desapontada. Ó senhores da Câmara Municipal aí do sítio, retirem lá as placas do meio da estrada! Se a fábrica foi à vida, não enganem as pessoas que a gasolina está cara. E não éramos só nós a perguntar pela fábrica... francamente!
Ficámos com este esteiro de ria. Bem bonito por sinal e não cheirava mal.
Perante estes apontamentos tão identitariamente nossos como é que ainda se afirma por aí que o Allgarve já não é português?
Hoje alguém me evidenciou que o conceito norte americano de looser não tem correspondência com a realidade portuguesa, pois a pirâmide sócio-capitalista é diferente, mais as assimetrias e idiossincrasias multicurais do outro continente que conferem aos papeis sociais outras nuances que não as nossas não permitem a aplicação e blá, blá, blá.
Looser seria, no limite e digo eu, o nosso zé ninguém, mas nem assim está lá perto, não se chega a looser por uma questão de se ter azar na vida; não se é um desprotegido da sorte, não é preciso ser-se alcoólico ou toxicodependente, não é uma característica inata, adquire-se pela diferença e na comparação. Uma espécie de desviante social, a atirar para o azelha. O que está à margem, mas queria era estar lá dentro e chamar looser a outro. Uma espécie de Bobone da etiqueta ou de Tino da política. Para os norte americanos um looser é aquele que não é popular, que não atinge objectivos sociais, profissionais, afectivos e outros estereotipados pela sociedade dominante onde, desgraçadamente, está ou se quer ver metido. É aquele que fica com a mulher mais tosca, o que é gozado e abusado pelos colegas, em quem o chefe descarrega a frustração, enfim, o bode expiatório de tudo e de mais alguma coisa.
Então, e admito sem me conseguir desprender do paradigma americano, assomou-se-me logo ao cérebro um outro conceito fumegante e acabadinho de inventar para tornar inteligível à minha pessoa os 15 minutos de excruciante tormento televisivo a que ontem à noite me submeti no canal com nome de doente e que cumpre o seu desígnio em pleno. O de portugueses trash. E tudo isto porque ontem vi, e juro que só aguentei um quarto de hora na intermitência do zapping, aquele formato americanóide transposto para português da sick em que um otário qualquer faz o teste do polígrafo e leva atrás, para a humilhação pública, uma mulher deficiente emocional, um amigo dos copos e um irmão saloio.
E, alguns de vocês, caros leitores (se os houver), podem até argumentar: "mas quem és tu, ó mulher-de-trinta-anos, para fazeres juízos de valor sobre as pessoas, coitadinhas, que vão à televisão à procura de um complemento salarial e são corajosas e sinceras e humanas e que erram?! Todos nós erramos e tu a achares que és dona da verdade?!" Ao que eu, de antemão, respondo já que não vão por aí. O blog é meu. Logo, digo o que quiser.
Uma pessoa passa pela vida sem saber para onde vai, mas como no poema, ao menos que se saiba por onde é que não se quer ir. E quem anda à chuva, molha-se e outros clichés semelhantes.
Duas considerações
Aquela mulher desperta-me a vontade de lhe dar um estalo para ver se acorda, tamanha a demência da relação que alimenta: o homem faz sexo com outras sem preservativo; paga para ter sexo com companhias duvidosas; apelida as mulheres de fracas; não gosta de brincar com a filha; não a perdoaria caso ela (vá-se lá a saber porquê) cometesse adultério e ela ainda responde que não sabe se a relação tem futuro e que sim, ele a ela, assim, em casa, nunca lhe faltou ao respeito, é bom marido, é bom pai... Séria candidata a vítima de violência doméstica. Alguém a alerte.
Aquele homem é uma besta, sem subterfúgios ou máscara, é um perfeito imbecil que há 50 anos era um bom partido e hoje em dia só serve para ser sovado. Um deficiente emotivo, belo exemplar da tradicional educação que advém do "pobrezinho, mas honradinho" e dessa pérola que graça como "se tenho barba é para mandar". Aquele espécime é um básico do piorio: pensa de forma básica e articula a sua visão do mundo à volta daquilo, tipo pescada de rabo na boca ou burro com palas bem estreitas: um homem tem necessidades que a mulher não preenche; a mulher é mãe e uma boca que beija os filhos não faz coisas porcas e vai daí, vai ter com a profissional do sexo mais próxima com toda a legitimidade que a sua condição de género lhe garante. A mulher pertence à casa e é a sua extensão, ambas são coisas sagradas e que ninguém se meta com elas. Um homem tem uma rede social ampla e fortalece-a fora de casa numa alegre variante de orgias com os camaradas amigos (também extremamente másculos e viris) e a mulher faz vista grossa e sofre calada enquanto lhe lava a roupa interior e lhe faz o jantar. Mulher = metamorfose entre empregada doméstica e mãe. Homem = caçador (num sentido amplo) e autoridade. A mulher submete-se aos caprichos do homem porque é da sua costoleta que a mulher saiu e está à margem de qualquer crítica, pois ele, em última instância, é quem sabe, quem decide, quem manda. Manda na mulher e na filha e na casa dele. Nele ninguém manda, muito menos uma mulher.
Anormal! Daí a discussão entre o looser, o zé ninguém ou o atrasado mental. Arremato a 3ª e apelido estes belos exemplares de portuguese trash e estou a ser muito boazinha.
Quando a mediocridade, neste país, é premiada com a módica quantia de 50 mil contos, o que é que nos resta? O suicídio ou a emigração, dizem alguns de vocês, mais radicais. Uma depressão profunda ou a aquisição de hábitos alcoólicos, dirão outros, mais propensos ao bloqueio psicológico e que ainda não leram O segredo.
Torturei-me verdadeiramente enquanto via aquele programa asqueroso, é verdade. E voltava lá, só para ver a próxima pergunta e até onde ia a falta de amor próprio do interveniente. Esgotou tudo e ganhou. Ganhou dinheiro, mas deve habilitar-se a perder a mulher e o emprego. Ou então não. Torna-se apresentador de televisão e passa a integrar o rol de personagens vazios das revistas que custam menos de 1 euro e 50 cêntimos. E, no meio disto tudo, vai na volta, estou a ver tudo ao contrário e a looser sou eu.
Ontem passei o dia, em grupo, a seleccionar fotografias.
Como se não bastasse, hoje continuei a tarefa e ainda andei a ver programações de exposições alheias.
Agora estou cansada, mas ainda consigo perverter todo um outro nível conceptual, que não o meu, e imaginar o seguinte:
Olhei para esta fotografia e o que é que me veio à cabeça? Olhar a luz, a lente usada, a exposição, focagem, ângulo, a ideia ou o enquadramento? Não. O que me assolou à cabeça, o primeiríssimo pensamento foi, "Vou ajardinar a minha casa de banho: dois vasos, uma jarra e vai ficar tão lindo!"
Com esta lembrei-me, penitente, que risquei ontem os meus óculos de sol de eleição...snif
Depois, ainda insisti...
Mas esta só me fez lembrar que devia ir arrumar a minha gaveta onde os meus colares jazem todos enrolados uns nos outros...
E com esta desisti que o cansaço torna-me básica, está visto, e estou sem paciência para mim... Fiquei com vontade de fumar.
Há fins de dia que só mesmo estirada no sofá a olhar o televisor...
Hoje tive um desses!
Fiquei tão contente...
O meu interlocutor ficou frustrado. Viu-se o esmorecimento na cara dele.