O que é isto?!
Alvor, concessionário ameaçado (Jornal de Notícias on line, 25/02/2008)
Uma tentativa de decalcar as estâncias turísticas aquíferas da República Dominicana para a costa portuguesa?!
Isto é somente uma construção sem sentido num local propenso a estes tipo de acontecimentos, feia como o raio. Em última instância, uma péssima propensão para o negócio de quem investe nestas condições e com estas condicionantes e uma má decisão da entidade reguladora que os deixou poisar ali.
E isto?!
O cúmulo da insensatez e da ausência de política territorial e um falso compromisso. Obstipam o lençol freático (que neste país é noção desconhecida), impermeabilizam os solos, contribuem para a erosão dunar e depois vêm para a televisão queixar-se do “avanço do mar” e da “força da natureza”!!! Ó gente tosca!
E só mais este... para mim, paradigmático... Que significado tem esta aberração em plena Serra da Arrábida?!
Em Portugal sempre existiu um puro e completo desrespeito pelo património natural e pelo conceito de ordenamento territorial quase sempre seguido de perto, ou empurrado, por um pato bravismo do piorio ou uns lobbies daqueles bem fortes e que movimentam dinheiro e influências (daquelas mesmo boas e poderosas).
Antes de 1974 estas situações tinham implícita, lamentavelmente, a concordância do poder central e do local, este último estrangulado financeiramente por orçamentos ridículos, sem autonomia financeira ou administrativa para gerir e decidir sobre o seu território (se querem saber mais consultem a Constituição Portuguesa de 1933 da responsabilidade do Salazar). Assim, a inexistência de uma autoridade local autónoma, afirmativa e actuante, a que se acresceu a pressão das necessidades habitacionais, principalmente, nos centros urbanos e litorais do país, saturados com os contínuos fluxos do êxodo rural, foram factores concorrentes para o rápido esquartejar desses territórios, retalhando zonas agrícolas, ribeirinhas, baldios, matas e tudo o que mais houvesse disponível para construir, construir, construir. Construir de preferência em altura, comprometendo qualidade e salubridade, ordenamento e qualificação, mas, em contrapartida, especulando nos preços dos imóveis, num negócio lucrativo para poucos e que, por um lado, afastou demasiada gente do mercado habitacional legal hiper inflacionado e, por outro, fez florir o mercado habitacional paralelo, clandestino e ilegal (onde o negócio do aluguer de quartos, compartimentação de anexos e construção desorganizada e sem aprovação camarária imperava) em sítios rocambolescos sem rede de água, electricidade ou saneamento, ladeados, não por frondosos jardins, mas por poças infectas de dejectos, lixos e ademais. A pérola destes tempos foi a auto construção (conceito pomposo para descrever a construção da própria casa abarracada), única alternativa da grande maioria da população portuguesa, analfabeta e esquálida de fome que, entre morrer lentamente nos campos como acontecera às gerações passadas ou tentar a sorte nas indústrias, lá vinham para as cidades com os filhos atrás e mais a mulher procurar emprego precário, mal remunerado e morar, na melhor das hipóteses, numa cave infecta e, na pior, numa barraca ao pé da fábrica. Esse crescimento desordenado e movido pela riqueza rápida de uns poucos contribuiu, em muito, para os níveis de densidade de construção que hoje caracterizam as áreas metropolitanas.
Depois veio a revolução e nasceram as autarquias locais autónomas. Anos e anos para colmatar ausência de infra-estruturação e falta de alojamento. Valeu-lhes também a entrada na velhinha CEE e os quadros de apoios a que as 300 e poucas autarquias portuguesas se puderam candidatar. Depois o Estado, sob a égide europeia, decreta a obrigatoriedade dos Planos Director Municipais e elas cumpriram. Desatam as câmaras municipais a elaborar planos directores, definir áreas agrícolas, reservas ecológicas, perímetros de orlas costeiras, áreas com potencial turístico, zonas REN e RAN, reservas ecológicas e outras ademais. Era uma tentativa macro de ordenamento e qualificação do território, tendo em conta o longo prazo, a preservação dos recursos para as gerações vindouras e que foi realmente seguida por algumas. Contudo, no grosso de todo o território português continuam a emergir notícias de infracções ou atropelos aos planos. Existem hoje cerca de 300 mil construções ilegais e a Ria Formosa, só como exemplo, congrega uma percentagem considerável!
Este país, ainda hoje, continua a "usufruir" da secundarização de factores que deveriam ser determinantes, como o controlo da humanização da paisagem e de intervenções “artificiais” em ambientes frágeis do ponto de vista ecológico e ambiental.
Voltando ao início. Qual é o espanto dos concessionários do Alvor se habilitarem a perder os seus estaminés de praia? Nenhum. Aquilo está ali quase a pedi-las. Sim, não é construção cimentada, mas para onde vão os esgotos? Quais as condições de salubridade daquilo? Porquê literalmente dentro da praia e à beira do mar? Pois, o mar avança pouco a pouco e é provável que engula aquilo algum dia (ou pensavam que ficariam ali de estaca e toros para todo o sempre?!)... Para quê, então, gastar rodos de dinheiro a atirar areia para as periclitantes fundações de madeira que aguentam aquilo, num contra-relógio contra o estado do tempo do mês de Fevereiro? Só se for para gastar dinheiro público.
E, às vezes, a culpa é da chuva! Então, se chove pouco lá se vai a nossa micro-agricultura arcaica; se chove muito, a falta de escoamento de água provoca cheias... Pois, é capaz. No meio de tanto betão ainda ninguém se lembrou de colocar um mega autoclismo nos centros urbanos "de risco" para, quando chover, as Juntas de Freguesia os puxarem e evitarem assim o que anos e anos de avanços na engenharia mundial ou avisos de especialistas mais esclarecidos nunca conseguiram: uma organização racional do espaço com respeito pelas evidências da natureza!