Quarta-feira, 9 de Julho de 2014
Isto pode parecer uma pergunta fofinha, retórica, mas desenganem-se.
Isto é uma pergunta mesmo profunda.
Isto resulta da minha experiência e, em particular, de uma reacção ou não-reacção, de alguém que eu tomava (ou tomo, já não sei) como amiga desinteressada. Uma reacção-não-reacção explicitamente alimentada a inveja (eu sei, eu conheço-a).
Mas há amigos desinteressados? Adultos com responsabilidades conseguem ser amigos desinteressados? Ou só ficam felizes quando aquilo que os outros conseguem (afectiva, emocional, académica, profissional ou monetariamente) está sempre aquém daquilo que eles padronizam para si?
Eu consigo ficar feliz com a felicidade dos outros, apesar de quando tentava engravidar e não conseguia, me sentir invejosa, confesso e nunca escondi, mas também nunca andei a estragar a felicidade alheia.
Mas há outros que parecem achar que, sinónimo de uma amizade, é a infelicidade partilhada. E isto é estúpido porque depois dos 30 anos vá lá, e já estou a dar de barato que os vinte é só para a desbunda, uma pessoa tem aquilo que foi construindo. O que alcance ou se disponha a alcançar (afectiva, emocional, académica, profissional ou monetariamente) advém do modo como traçou ou traça os seus objectivos; como, com alguma maturidade que entretanto se adquire, faz e projecta escolhas e pensa sobre o que quer e o que não quer da vida. Os amigos não são responsáveis pela desdita ou felicidade de ninguém. Estão lá. Para apoiar, partilhar, ouvir e, aquilo que aparentemente nunca se quer dos amigos (apesar de se dizer à boca cheia que isso é pré-requisito), para serem honestos.
Ficamos uns verdadeiros cínicos depois dos trinta? Ficamos mais exigentes e já não estamos para levar com feitios muito diferentes dos nossos? Agora já não basta gostarmos das mesmas canções, dos mesmos livros e dos mesmos filmes? Com a idade ficamos cada vez mais individualistas?
De
Life Inc a 9 de Julho de 2014 às 22:01
Debato-me com as mesmas preocupações constantemente. De repente, parece que as pessoas simplesmente não querem investir numa amizade, dá muito trabalho retribuir e dar. Enfim...
xoxo
cindy
Exacto. Há uns anos estas coisas eram mais simples ;)
De Mulheres Poupadas a 11 de Julho de 2014 às 11:48
Não sei se tem a ver com a idade ou com o que a vida nos ensina. Eu fiquei com menos vontade de ter algumas pessoas na minha vida com a categoria de amigos quando não eram tudo menos amigos. Agora são conhecidos. Ter conhecidos também é importante. :)
Sim, conhecidos há sempre muitos, só fico triste é com a constatação que os amigos que pensava ter estão a passar para essa categoria depressa demais:(
Eu acho que a partir dos 30 são muito poucos aqueles que estão incluídos na categoria de "amigos".
E isso deixa-me triste e a questionar: será que sou eu que me tornei muito exigente?
De
Joana a 15 de Julho de 2014 às 10:34
Acredito que o valor ou a importância da verdadeira amizade pode mudar com a idade, mas também a credito que o que a vida nos vai ensinado também pesa.
Por vezes dou por mim a pensar na quantidade de amigos que tenho e confesso que não sei. Falo de amigos de verdade, daqueles que contamos seja o que for e fica com eles, daqueles que precisamos de chorar e estão ali para nos ouvir, daqueles que precisamos contar uma alegria e estão ali a comemorar connosco. Acho que não tenho.
Talvez a culpa seja minha em já não confiar, em achar que não devo contar isto ou aquilo. Com a idade tornei-me mais desconfiada em relação às verdadeiras amizades.
Boa semana
Sim Joana, creio que é mesmo isso, uma mistura de contingências: a nossa tolerância que diminui, a exigência que aumenta e, muitas vezes, as pessoas crescerem por caminhos diferentes. Obrigado pelo comentário :)
De Fran a 16 de Julho de 2014 às 12:02
A vida tem evoluído ao longo dos tempos e podemos gostar mais de algumas mudanças e menos de outras. Antigamente um casamento durava para a vida, agora não. Antigamente um emprego ou uma empresa durava uma vida, agora não. Antigamente as notícias eram trabalhadas e elaboradas por profissionais, agora não. Com a vida a tornar-se uma correria diária com redes sociais e muito desemprego, as pessoas tornaram-se muito mais egoístas. Fazem-me lembrar as fraldas descartáveis: não queremos saber se compensam ou não, apenas queremos saber que dão muito menos trabalho. Entre cuscar a vida alheia e lamentar a vida que não temos, pouco tempo sobra para nada. E não é só a amizade que fica de fora: a educação dos filhos, a entre ajuda humana, a cortesia, a simpatia, tudo fica de lado. Esquecido. Não te preocupes porque não tem a ver com a idade. Tem a ver com a sociedade. Eu não mudo a sociedade mas mudo o mundo à minha volta. Tenho amigos a quem dou a minha vida sabendo primeiro que não vou receber nada em troca. A amizade não tem preço. E vale a pena o esforço.
Agradeço a tua perspetiva Fran, e concordo que socialmente as mudanças foram muitas e rápidas. Tenho presente que a crise social também passa pela substituição (sem substituto à altura?) dos valores morais e éticos, em vários quadrantes da vida quotidiana. Eu, confesso, tendo presente tudo isso e andando nostálgica de boas e velhas amizades desinteressadas, sou incapaz de confiar a minha vida a quem sei que a minha vida será indiferente.
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